ATA DA DÉCIMA SESSÃO EXTRAORDINÁRIA DA PRIMEIRA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA LEGISLATURA, EM 27.06.1989.
Aos vinte e sete dias do mês de junho do ano de mil novecentos e oitenta e nove reuniu-se, na Sala de Sessões do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre, em sua Décima Sessão Extraordinária da Primeira Sessão Legislativa Ordinária da Décima Legislatura. Às quatorze horas e vinte e três minutos, foi realizada a chamada, sendo respondida pelos Vereadores Adroaldo Correa, Airto Ferronato, Artur Zanella, Clóvis Brum, Cyro Martini, Décio Schauren, Dilamar Machado, Edi Morelli, Elói Guimarães, Ervino Besson, Flávio Koutzii, Gert Schinke, Giovani Gregol, Heriberto Back, Isaac Ainhorn, Jaques Machado, João Dib, João Motta, José Alvarenga, José Valdir, Lauro Hagemann, Leão de Medeiros, Letícia Arruda, Luiz Braz, Luiz Machado, Mano José, Nelson Castan, Omar Ferri, Valdir Fraga, Vicente Dutra, Vieira da Cunha, Wilson Santos e Wilton Araújo. Constatada a existência de “quorum”, o Sr. Presidente declarou abertos os trabalhos e iniciada a ORDEM DO DIA. Em Discussão Geral e Votação, esteve o Projeto de Lei do Legislativo n° 53/89, que, a Requerimento do Ver. Flávio Koutzii, aprovado por vinte votos SIM contra nove votos NÃO, com declaração de voto do Ver. Isaac Ainhorn, teve adiada sua discussão e votação por cinco Sessões. Este Requerimento foi encaminhado à votação pelos Vereadores Dilamar Machado, Artur Zanella, João Dib, Flávio Koutzii e Clóvis Brum, e submetido à votação nominal, a Requerimento verbal, aprovado, do Ver. Isaac Ainhorn. A seguir, foi aprovado Requerimento verbal do Ver. Dilamar Machado, solicitando a inversão da ordem de votação dos processos constantes da Ordem do Dia. Em Discussão Geral e Votação Secreta, foi aprovado o Projeto de Lei do Legislativo n° 49/89, por vinte e dois votos SIM contra quatro votos NÃO e cinco votos EM BRANCO, tendo sido escrutinadores os Vereadores Omar Ferri e Edi Morelli. Após, foi aprovado Requerimento do Ver. Dilamar Machado, solicitando que o Projeto de Lei do Legislativo n° 49/89 seja dispensado de distribuição em avulsos e interstício para sua Redação Final, considerando-a aprovada nesta data. Em Discussão Geral e Votação, esteve o Projeto de Lei do Legislativo n° 38/89 que, após ter sido discutido pelos Vereadores Nelson Castan, Clóvis Brum, Adroaldo Correa, Elói Guimarães, Vicente Dutra, Ervino Besson, José Valdir, Dilamar Machado, Heriberto Back, Artur Zanella, Vieira da Cunha, Luiz Braz, Flávio Koutzii e João Dib, e encaminhado à votação pelos Vereadores Lauro Hagemann, Nelson Castan, Clóvis Brum e Heriberto Back, deixou de ser votado em face do término do prazo regimental da presente Sessão. Durante a Ordem do Dia foram apregoadas as seguintes Emendas: 03, do Ver. Flávio Koutzii, 01, do Ver. Luiz Braz, 01, do Ver. Artur Zanella, ao Projeto de Lei do Legislativo n° 38/89; 01, do Ver. Wilson Santos, ao Projeto de Lei do Legislativo n° 53/89; 01, do Ver. Flávio Koutzii, ao Projeto de Lei do Legislativo n° 26/89. Ainda, o Sr. Presidente respondeu Questões de Ordem do Ver. Clóvis Brum, acerca do Processo 1363/89; dos Vereadores Artur Zanella e Clóvis Brum, acerca do Processo n° 1212/89; do Ver. Luiz Machado, acerca da necessidade de que o Vereador na tribuna se atenha ao Processo em discussão. Os trabalhos estiveram suspensos por treze minutos, nos termos do art. 84, III do Regimento Interno. Às dezoito horas e trinta e seis minutos, terminado o horário regimental da presente Sessão, o Sr. Presidente levantou os trabalhos, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão Extraordinária a ser realizada a seguir. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores Valdir Fraga, Isaac Ainhorn, Clóvis Brum, Lauro Hagemann, Wilton Araújo e Adroaldo Correa, e secretariados pelos Vereadores Lauro Hagemann e Nelson Castan, este como Secretário “ad hoc”. Do que eu, Lauro Hagemann, 1º Secretário, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após lida e aprovada, será assinada pelo Sr. Presidente e por mim.
O SR. PRESIDENTE (Valdir Fraga): Havendo “quorum” para a presente Sessão
Extraordinária, passamos à
PROC.
N° 1363/89 – PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº 053/89, de autoria do
Ver. Isaac Ainhorn, que dispõe sobre intervenção do Executivo em empresas de
transporte coletivo urbano por ônibus de Porto Alegre.
Parecer
Conjunto:
-
da CJR,
CFO, CUTHAB e CEDECON. Relator-Geral Ver. Clóvis Brum: pela tramitação.
O SR. CLÓVIS BRUM (Questão de Ordem): Sr. Presidente,
diz aqui no avulso que o Processo n° 1363/89 tramita em regime de urgência. Nós
queremos socorrer a Mesa dizendo que não está absolutamente.
O SR. PRESIDENTE: A Mesa irá
corrigir. Houve um equívoco. A Mesa recebe uma Emenda de Líder do Ver. Wilson
Santos, pelo PL.
Sobre a mesa, Requerimento de autoria do Ver. Flávio
Koutzii, solicitando seja o PLL n° 053/89 adiado em sua discussão e votação por
cinco Sessões.
Em votação. Com a palavra, para encaminhar, o Ver.
Dilamar Machado.
O SR. DILAMAR MACHADO: Sr. Presidente,
Srs. Vereadores, a Bancada do PDT encaminha contra o Requerimento do Ver.
Flávio Koutzii, que pede o adiamento da discussão e votação do Projeto do nobre
Ver. Isaac Ainhorn, que busca trazer para o âmbito desta Casa discussão e
deliberação em cima do tema intervenção nas empresas de transportes coletivos.
E vou justificar as razões do encaminhamento contrário da Bancada do PDT. Na
tarde que passou, desta tribuna, denunciei que na empresa VTC, sob intervenção,
a Administração Municipal, através da Interventora Ruth D’Agostine, estava
promovendo demissões de cobradores, fiscais, motoristas e largadores da VTC. A
“Zero Hora” de hoje publica uma nota em que a interventora justifica essas
demissões. Embora a minha denúncia não tenha sido publicada , é a primeira vez
que eu vejo um jornal da envergadura da “Zero Hora” publicar demissão de
funcionários de qualquer empresa como notícia. Isso ocorre todo dia. A classe
trabalhadora está sendo massacrada pelos patrões diariamente. (Lê): “ A
interventora na Viação Teresópolis Cavalhada (VTC), Ruth D’Agostine, assinou,
ontem, a demissão de 28 funcionários da empresa. Segundo ela, esses
funcionários eram onerosos, pois foram contratados irregularmente pelos
permissionários para trabalhar na frota de táxi-lotação e de transportes de
cargas que operavam paralelamente dentro da empresa e cujos custos eram
incluídos no cálculo da tarifa. Com a demissão de 28 funcionários - 3 fiscais,
9 motoristas e 16 cobradores - houve uma redução de NCz$ 12.333,00 na folha de
pagamento da empresa, que estava com um custo operacional acima de 50%, conforme
Ruth D’Agostine. O quadro foi reduzido para 492 funcionários, e as demissões
não vão afetar os horários nas linhas da VTC. ‘Os demitidos estavam sobrando e
não vai acontecer redução de horários’, garantiu ela. As demissões foram
aceitas normalmente, segundo a interventora, sem nenhum incidente.”
Sr.
Presidente, o que vou afirmar desta tribuna, quero que seja anotado pela
Taquigrafia e na mente dos Srs. Vereadores: nenhum desses 28 demitidos ontem
trabalhou em transporte de carga e táxi-lotação. Dezessete moças foram
contratadas nos últimos dias como cobradoras da VTC. Os demitidos: Carlos
Alberto Galvão trabalhava na empresa desde 1985, foi demitido ontem, era
fiscal, nunca trabalhou em transporte de carga nem em táxi-lotação; José Adair
da Rosa Moreira trabalhava na empresa há 10 anos, exercia a função de cobrador
da linha Alto Teresópolis, não trabalhava em transporte de carga nem em
táxi-lotação e nem possui carteira de motorista; Odilon Chaves trabalhava na
empresa desde 1983, no almoxarifado; Ricardo Fernandes trabalhava na empresa há
5 anos, 1 mês e 10 dias, auxiliar de escritório; Carlos Alberto M. Ascari
trabalhava na empresa há 20 anos; Nicolau Tadeu da Silva trabalhava na empresa
há 20 anos, esse cidadão é chefe de tráfego da empresa VTC; José Almir
Rodrigues trabalhava na empresa há 15 anos, era encarregado do Departamento de
Pessoal, foi demitido sob alegada justa causa, ajuizou ação na Justiça do
Trabalho, sendo reintegrado por decisão desta, novamente foi demitido por justa
causa; Jeferson Luiz Fernandez há 3 anos trabalhava na empresa, foi demitido
por justa causa e reintegrado, fica em casa e recebe seus salários sem
trabalhar; Édison Luiz Pereira da Silva há um ano funcionário da VTC, está em
casa e recebe no fim do mês, não trabalha na empresa; Guaraci Costa há 5 anos
funcionário da empresa, está em casa e recebe no fim do mês sem trabalhar; há
uma funcionária que mora em Pelotas e só vem no fim do mês para receber, por
ordem da Interventora; Paulo Roberto Coelho de Souza trabalhava há 8 anos na
empresa foi demitido por justa causa e reintegrado pela Justiça, recebe seu
salário em casa sem trabalhar. Esse caso, Ver. Flávio Koutzii, preste atenção,
Cleomar Strider e Gilberto Chaves, dois funcionários da VTC, anos de casa,
foram demitidos por justa causa, foram reintegrados pela Justiça do Trabalho. A
Interventora mantém esses dois empregados numa sala da empresa onde eles não
têm nenhuma tarefa, não têm máquina, não têm papel, estão ali dentro da sala,
só podem sair na hora do lanche, cumprem o horário e vão para casa sem cumprir
tarefa. Isso significa cárcere privado, é o mesmo caso denunciado pelo PT com
relação à Zivi-Hércules. Miguel Jair Rodrigues trabalhava há 12 anos na
empresa, na função de mecânico. Quando a intervenção ocorreu...
O SR. PRESIDENTE: Vereador, lamento, mas o tempo de V. Exª
já se encontra de há muito esgotado. Gostaria que V. Exª concluísse.
O SR. DILAMAR MACHADO: Encerro, Sr. Presidente, dizendo que
isso é um mapa de operações da VTC, da linha Glória. O Ver. Back conhece bem
esse caso. Trinta e nove viagens estão suprimidas, diariamente, da linha
Glória, Ver. Back, por decisão da Interventora. Isto é o mapa de verão e que é
ocupado apenas em janeiro e fevereiro, está mantido agora. Três mil pessoas
deixam de ser transportados diariamente nas empresas da VTC por decisão da
Interventora. O clima é de terror. Por esta razão, não há como adiar a
iniciativa do Ver. Isaac Ainhorn. Ela passa a ter, da minha parte e acredito
que da maioria dos Vereadores desta Casa, todo o apoio. A Câmara Municipal, não
só a nossa Comissão, a CPI, todos os Vereadores, têm que começar a entrar
diretamente nas empresas de transporte sob intervenção. É um clima de terror.
Muito Obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: A seguir, a palavra com o Ver. Artur Zanella, pelo
PFL.
O SR. ARTUR ZANELLA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, essa
situação retificada pelo Ver. Dilamar Machado reflete bem uma situação. Eu,
inclusive, trouxe hoje uma xeróx das declarações da Drª Felizberta e dos funcionários,
a respeito da Dona Felizberta, que até tenho vergonha dessas crianças que estão
entrando aqui, mas elas que me perdoem porque elas terão que aprender.
Diz
o Secretário do Sindicato: “É uma estúpida, uma grosseira, que criou um clima
de terrorismo. A Felizberta é o homem forte da SMT. Todos tremem quando ouvem o
nome dela. Do seu posto de comando na empresa Felizberta não se abala e abre a
sua bateria: ‘Sei que eles me chamam até de sapatão, nem que a vaca tussa vamos
ter que saber o número real de passageiros, se for preciso chamamos o 3°
Exército, a 7ª Frota ou a Marinha Inglesa’, e termina dizendo que vai ser
assassinada e que já avisou o delegado que isso vai ocorrer.”
O
Ver. Antonio Hohlfeldt, por seu turno, diz que “pela primeira vez estamos tendo
uma fiscalização decente e que esta situação é uma decorrência das
administrações anteriores, que desmontaram e acabaram com a SMT”.
Mas,
Sr. Presidente, o Projeto do Ver. Isaac Ainhorn não trata dessas intervenções e
sim das futuras; logo, é absolutamente inócua para este problema. A minha
posição - eu fiz questão de escrevê-la para que não haja equívocos - é a
seguinte:
“O
Projeto de Lei tem dois momentos distintos: sua eventual influência sobre as
atuais e as futuras intervenções. Para as atuais não há previsão de sua
influência, eis que a Emenda em que havia esta previsão foi retirada. Mesmo que
outra Emenda de igual teor fosse apresentada, não haveria tempo suficiente para
sua análise nem seria a mesma oportuna, pois a Administração Municipal já anuncia
o fim das intervenções em breve lapso de tempo, algumas ainda no próximo mês.
Se
no início de agosto a situação mantiver-se inalterada, caberá, em meu entender,
a participação mais incisiva da Câmara Municipal, com a apresentação de Emenda
específica. Este raciocínio leva meu voto para o adiamento da apreciação do
Projeto de Lei. Se o Projeto for para regular somente futuras intervenções que
não se prenunciam no horizonte, não há porque a manutenção de urgência, não no
sentido regimental e sim no sentido de pressa de sua apreciação em Sessão
Extraordinária.
É
um Projeto extremamente complexo que demanda um aprofundamento maior em seus
debates e análises. A Casa não pode deixar nenhum resquício de dúvida em sua
busca da concórdia e do bem comum, sem qualquer matiz de beneficiamento de
qualquer das partes em litígio, conservando sua posição de árbitro em situações
de confronto.
Pelo
adiamento da votação.”
Digo
mais, Sr. Presidente, se no mês de agosto, após essas cinco Sessões solicitadas
pelo Sr. Líder do PT a situação não for definida com um cronograma claro e
certo de início e fim de intervenções, sou favorável a que a Casa aprove o
Projeto do Ver. Isaac Ainhorn com uma Emenda retroagindo a essa intervenção,
mas como no momento esse Projeto não contempla a atual intervenção e sim,
somente as futuras, que não estão em debate nesse momento, pessoalmente sou
favorável ao adiamento dessa discussão a espera que a Comissão Externa da
Câmara e mesmo a CPI apresente os seus relatórios. E no mês de agosto, se não
houver uma solução adequada para essa situação que considero insustentável a
médio prazo e extremamente difícil a curto prazo, tantas são as medidas
equivocadas que estão ocorrendo nessas intervenções, creio que no início do mês
de agosto teremos condições, então, desta Casa tomar medidas mais incisivas.
Sou a favor, então, do adiamento e sou a favor que o Projeto seja discutido no
período da Comissão Representativa para que possamos, no início de agosto,
analisando o desenvolvimento das intervenções tomarmos uma atitude, quem sabe
até de caráter retroativo julgando estas intervenções na devida oportunidade.
Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra,
o Ver. João Dib.
O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, encaminho
contrariamente ao adiamento solicitado pelo eminente Ver. Flávio Koutzii.
Vivemos um momento de imenso tumulto, um tumulto gerado pela incompetência de
quem tem que dirigir o transporte coletivo nesta Cidade e não está sabendo
fazê-lo.
Acho
que o Ver. Zanella tem razão quando diz que deveria retroagir a Emenda, a
Emenda deveria ser apresentada no sentido de que estas intervenções, hoje em
foco, também fossem examinadas. Porque basta de pensar que os trinta e três
Vereadores são incompetentes, ineptos e não sabem calcular a tarifa.
Não
estou preocupado com os vinte e oito funcionários que foram demitidos, porque
será feita justiça amanhã ou hoje ainda. Estou preocupado é com a incompetência
de quem ousa afirmar que os vinte e oito funcionários estavam incluídos no
cálculo da tarifa. Tarifa que foi razão da intervenção. E que, para aumento de
inflação de 106%, aumentou em 125%. E até sou capaz de justificar os 125%.
Então, não é isto que me preocupa. O que me preocupa é que não sabem que as
informações do Secretário e do Prefeito dizem que a tarifa passou de 12 para 17
centavos, por razões políticas, e que a tarifa passou de 17 para 27 por razões
outras, não vi cálculo de tarifa. Ao tempo em que fui Prefeito, era exigido de
mim, enquanto cabia à Prefeitura, que as cópias dos cálculos de tarifa viessem
à Câmara. Até mandei ver se havia algum cálculo de tarifa à mão, porque queria
mostrar que no cálculo de tarifa pode ter trezentos motoristas para cinqüenta
ônibus, e eles não vão entrar no cálculo. Está definido pela SMT que existe
para cada ônibus menos de dois motoristas. Este é o cálculo. Ele pode gastar um
litro de diesel por quilômetro, segundo os cálculos e os dados, e a Secretaria
vai usar 2.728. Então, não iludam, não mintam para esta Cidade. Não sabem
administrar, não têm competência para administrar, então, o que estão fazendo?
Prejudicando vinte e oito pessoas da Viação Teresópolis, mas pagando altos
salários para outras pessoas que vieram não sei de onde, e não conhece o
transporte. É brincadeira o que estão fazendo com esta Casa, a mesma
brincadeira quando decretaram a intervenção, não deram ciência ao Poder
Legislativo, mas deram ao Governador. E só vieram dizer à Câmara que havia
intervenção, porque a Câmara reclamou, a Câmara que já havia sido dispensada
dos debates, lá no Salão Nobre, na presença de todas as Lideranças, da
Presidência da Casa, nós fomos dispensados.
Então,
sobre cálculos de tarifa, aqui está o engenheiro que, pela primeira vez,
calculou a tarifa de Porto Alegre, em 1958. Até então não se calculava tarifa.
E o cálculo de tarifa continua sendo o mesmo: para cada frota um número “x” de
motoristas, um número “x” de fiscais para cada grupo, um fiscal para quatro ou
cinco, oito ônibus, eu não sei agora exatamente. Não adianta ele ter dez
fiscais para dez ônibus, a Secretaria Municipal de Transporte vai usar um ou
dois, pode ter quantos quiser. Então, essa estória de que trabalhavam para o
caminhão de carga ou para a lotação é estória mesmo, estória de quem não
conhece, estória de quem está lá para fazer a renovação da frota e não renovou
nada. A frota está pior do que antes, está suja, está mal cuidada, os horários
estão completamente descontrolados. Então, Ver. Zanella, eu acho que V. Exª tem
razão, deve retroagir, deve mandar examinar o que está ocorrendo com essas
intervenções que estão aí, porque soa prejudiciais à Cidade.
Cumprimento
o Ver. Wilson Santos pela sua Emenda de Líder, que quer que seja o servidor do
quadro da Prefeitura, com curso superior, e que se vincule a alguma coisa a
esta Cidade, a Administração Municipal, porque quando sair o Prefeito, quando
sair o Secretário, o servidor vai continuar no seu lugar. Sou grato.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Flávio Koutzii.
O SR. FLÁVIO KOUTZII: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, a nossa
posição se sustenta naquilo que, ao longo de meses e meses de debate, temos
desenvolvido aqui que é a defesa da intervenção, entendida, em primeiro lugar,
como uma resposta ao ultimato dos empresários que desencadeou esse processo. Em
segundo lugar, a manutenção da intervenção, em algumas empresas, permitiu um
diagnóstico de acordo com técnicas apropriadas de auditoria que revelou,
especialmente nas empresas Sopal e Trevo - sobre as quais não se ouve
referências aqui e que são das duas mais importantes empresas em termos de
volume e número de unidades de transporte - que esvaziaram as suas empresas,
que não cumpriram os programas de renovação da frota e que, portanto, são
responsáveis por profundos prejuízos à população, na medida em que não
cumpriram a lei. É da lei 12% de lucro para a empresa concessionária. É
compromisso separar 10% para renovação da frota e isto não foi feito. É
compromisso qualificar os transportes e isto não foi feito. Por mais que queira
o Ver. Dib e por mais erros que eventualmente tenhamos cometido por
inexperiência, ao enfrentar um problema que se tornou uma verdadeira guerra, o
que é evidente é que não foram os últimos cinco meses que criaram o problema de
renovação da frota, o que é evidente que não foi nos últimos cinco meses que
apresenta uma Sopal semi-sucateada. Então, o nosso pedido, acolhido por algumas
Lideranças desta Casa que não do nosso partido, evidentemente, nada se oculta
através disto, busca de um lado garantir o processo que nós estamos entrando,
na atual etapa, numa fase de conclusões e decisões. Em segundo lugar, e é claro
que nós mantivemos, aqui, uma crítica, muitas vezes, aos Srs. Vereadores, que
sempre acolheram as críticas contra nós e os elementos que, porventura, a intervenção
e as auditorias colocaram na Ordem do Dia, jamais foram considerados, ao menos,
como uma hipótese de verdade e que, por isto, entendemos que a prorrogação
deste Projeto vem de encontro a uma possibilidade de conclusão do processo, até
mesmo através da Comissão, recém formada ontem, de uma clarificação mais
completa e, espero, mais justa e equilibrada dos fatos. E, é neste sentido que
nós encaminhamos e sustentamos nossa demanda. Muito obrigado.
(Revisto
pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Clóvis Brum que
encaminha pelo PMDB.
O SR. CLÓVIS BRUM: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, nesta
tarde, concretamente, a Câmara Municipal marcará, pela decisão dos Srs.
Vereadores, um passo importante e decisivo neste problema do transporte coletivo
da Capital.
Acho
que o Projeto do Ver. Isaac Ainhorn é muito tímido para levar o meu voto
favorável. Para mim, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, um projeto com estes
propósitos tinha que ser um projeto mais decisivo e mais objetivo. Por outro
lado, o PT está pedindo tempo. Não vamo-nos afogar nas incertezas e na
incompetência que está se verificando nas intervenções das empresas de
transporte coletivo por parte do Partido dos Trabalhadores. Nós vamos votar
pelo adiamento, baseado no seguinte: se, durante o mês de julho, os
trabalhadores injustamente demitidos das empresas não forem readmitidos, se
durante o mês de julho não chegar a esta Casa, oficialmente, uma ampla e
detalhada prestação de contas do que os interventores receberam e gastaram,
dirigindo as empresas sob intervenção; se durante o mês de julho não chegar a
esta Casa um organograma de normalização definitiva da operação do transporte
coletivo, nós, em agosto, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, haveremos de
emendar o Projeto do nobre Ver. Isaac Ainhorn, fazendo com que as intervenções
cessem definitivamente, porque é inconcebível nós continuarmos de braços
cruzados enquanto que a Cidade, o Município, a população continuam assinando
uma dívida, contraindo uma dívida que, mais tarde, a Cidade terá que pagar.
Portanto, digo ao nobre Líder do PT, digo ao Ver. Flávio Koutzii, de maneira
transparente, o nosso voto não fica no sim ou no não; fica condicionado a
providências que a Administração Popular - e me enseja o Ver. Artur Zanella que
se incorpora ao pronunciamento - que a Administração Popular, durante o mês de
julho ponha, por favor, a casa em ordem readmitindo os funcionários
injustamente colocados para fora das empresas, enviando uma prestação de contas
detalhada da receita e da despesa, enviando à Casa um organograma de como vão
funcionar as intervenções, as liberações de empresas, as encampações, se,
porventura, o Prefeito assim entender de realizar. Enfim, enviar, durante o mês
de julho, toda a documentação que se possa entender, de maneira transparente,
que a Câmara de Vereadores, que o povo da Capital possa saber quanto a
administração do PT arrecadou durante as intervenções, quanto gastou, o que
pretende fazer. Enfim, um documento sério, respeitável, contabilmente idôneo,
contabilmente verdadeiro, contabilmente sério e que não venha uma só mentira
porque, caso contrário, em agosto estas intervenções cessarão, e não tenham
dúvidas disso, nem que o PMDB fique com seu voto solitário. Por isso
encaminhamos, nesta oportunidade, favorável, Ver. Flávio Koutzii, ao adiamento.
Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Encerrados os encaminhamentos.
O SR. ISAAC AINHORN: Sr. Presidente,
requeiro que a votação seja nominal.
O SR. PRESIDENTE: Em votação.
(Pausa.) Os Srs. Vereadores que aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO.
Solicito ao Sr. 1° Secretário que proceda à chamada
nominal dos Srs. Vereadores para a votação.
O SR. 1° SECRETÁRIO: (Após proceder
à chamada e colher os votos.) Vinte votos SIM e
nove votos NÃO.
O SR. PRESIDENTE: APROVADO o Requerimento
de autoria do Ver. Flávio Koutzii.
(Votaram SIM os
Vereadores Airto Ferronato, Artur Zanella, Clóvis Brum, Cyro Martini, Décio
Schauren, Ervino Besson, Flávio Koutzii, Gert Schinke, Giovani Gregol, Jaques
Machado, João Motta, José Alvarenga, José Valdir, Lauro Hagemann, Luiz Braz,
Luiz Machado, Omar Ferri, Wilton Araújo, Adroaldo Corrêa e Heriberto Back.
Votaram NÃO os Vereadores Dilamar Machado, Edi Morelli, Elói Guimarães, Isaac
Ainhorn, João Dib, Nelson Castan, Vicente Dutra, Vieira da Cunha e Wilson
Santos.)
O SR. PRESIDENTE: Solicito ao Sr. 1° Secretário que proceda
à leitura da Declaração de Voto do Ver. Isaac Ainhorn.
O SR. 1° SECRETÁRIO: É a seguinte a
Declaração de Voto:
“Aceito democraticamente a decisão desta Casa com
relação ao adiamento do Projeto de minha autoria, mais uma vez, mas lamento
porque esta Casa perdeu a oportunidade de examinar esta matéria hoje e assumir
uma posição clara em relação ao tema e através do mesmo reafirmar sua posição
quanto às intervenções.
Sala das Sessões, 27 de junho de 1989.
(a) Isaac Ainhorn”.
O SR. DILAMAR MACHADO: Entre os
Projetos na Ordem do Dia há um Projeto de autoria deste Vereador para ser
votado nesta tarde, que concede o título honorífico de Cidadão a Enayatollah
Vahdat. A Exposição de Motivos consta do Processo e como a escolha de cidadão
requer um "quorum" altamente qualificado eu pediria e V. Exª a
inversão para que este Projeto fosse colocado imediatamente em votação, posto a
presença quase maciça dos Vereadores em Plenário.
O SR. PRESIDENTE: O próximo
Processo seria o de n° 968/89, Projeto de Lei do Legislativo n° 026/89, de
autoria do Ver. Edi Morelli. Já tem a Emenda n° 01 e agora recebemos a Emenda
n° 02.
Eu pergunto ao Plenário se haveria possibilidade,
dado ao desejo demonstrado pelo Ver. Vicente Dutra e Ver. Dilamar Machado, de
nós encaminharmos o Parecer e um Vereador referente a esta Emenda, enquanto
isto nós votamos o Projeto do Ver. Dilamar Machado.
Em Votação a inversão (Pausa.) Os Srs. Vereadores
que aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADA a inversão da
Ordem do Dia.
PROC.
N° 1320/89 – PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº 049/89, de autoria do
Ver. Dilamar Machado, que concede o título honorífico de Cidadão de Porto
Alegre ao Sr. Enayatollah Vahdat.
Pareceres:
-
da CJR. Relator Ver.
Elói Guimarães: pela aprovação;
-
da CEC. Relatora Verª
Letícia Arruda: pela aprovação.
O SR. PRESIDENTE: Em discussão.
(Pausa.) Em votação (Pausa.) Solicito ao Sr. 1° Secretário que proceda à
chamada nominal dos Srs. Vereadores para a votação e convido os Vereadores Omar
Ferri e Edi Morelli para escrutinadores, já que a mesma é secreta.
Sobre a
mesa, Requerimento de autoria do Ver. Dilamar Machado, solicitando seja o PLL
n° 048/89 dispensado de distribuição em avulsos e interstício para sua Redação
Final, considerando-a aprovada nesta data. Em votação. (Pausa.) Os Srs.
Vereadores que a aprovam permaneçam sentados. (Pausa.) APROVADO.
Registramos,
com muito prazer, a presença da Verª Bernadete Vidal. Seja bem-vinda,
Vereadora!
DISCUSSÃO GERAL E VOTAÇÃO
PROC.
N° 1212/89 – PROJETO DE LEI DO LEGISLATIVO Nº 038/89, de autoria do
Ver. Nelson Castan, que estabelece a isenção do pagamento das tarifas de
transporte coletivo do Município de Porto Alegre aos excepcionais e seus
acompanhantes, cadastrados pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de
Porto Alegre - APAE/POA, aos menores “carentes”, matriculados o vinculados à
Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor - FEBEM, e ao Movimento Assistencial de
Porto Alegre, MAPA, e dá outras providências.
Parecer
Conjunto:
-
da CJR,
CUTHAB, CEC, CEDECON e COSMAM. Relator-Geral Ver. Ervino Besson: pela aprovação.
O SR. PRESIDENTE: Em discussão. Inscreve-se para discutir o
Ver. Nelson Castan, autor da proposição.
O SR. NELSON CASTAN: Sr. Presidente,
Srs. Vereadores, em discussão Projeto de nossa autoria que institui a
gratuidade do transporte coletivo para os excepcionais e seus acompanhantes,
vinculados à APAE, também aos menores carentes vinculados à FEBEM e aos menores
carentes matriculados e vinculados no MAPA.
Quando propusemos este Projeto, a nossa intenção era
tão-somente dar a este conjunto da população uma garantia, um benefício que de
certa forma eles já usufruem no momento através de um convênio assinado entre a
Prefeitura, a Carris, a Associação dos Transportadores de Passageiros e o
Projeto de Lei tem o mérito de dar a essas pessoas a segurança de que esse
benefício não mais lhes será retirado. Cada ano, este convênio que está em
vigor tem que ser novamente assinado e é um processo doloroso em que a
insegurança, a dúvida, o medo de que por alguma razão ou outra ele venha a ser
cancelado ou parcialmente cancelado, dificulta o trabalho dessas instituições.
Entendo que isso é um direito mais do que legítimo desses grupos e o Projeto
virá a cristalizar, virá a dar permanência a esse direito, tranqüilizando
milhares de famílias e vindo em apoio às lideranças da nossa comunidade,
lideranças da APAE, lideranças da FEBEM, lideranças do MAPA que dedicam horas e
horas de seu dia a um trabalho de natureza social, de natureza humanitária e
para essas lideranças, também, esse Projeto significa uma conquista. Entendemos
que os Srs. Vereadores serão sensíveis às necessidades, as dificuldades por que
passam as famílias dos excepcionais, principalmente famílias que têm um
problema a mais, todos temos problemas, todos vivemos com dificuldades, mas
essas famílias têm um problema a mais e entendo que o nosso Projeto é mais um
atenuante, mais um fator que certamente virá amenizar o sofrimento e a
dificuldade dessas milhares de famílias. Como já fiz referência na
justificativa do Projeto, trata-se, basicamente, de um direito adquirido por
esses grupos sociais e que, portanto, não irão onerar a tarifa do transporte
coletivo de Porto Alegre. Trata-se de um subsídio que já está embutido na
tarifa, através de um convênio feito pela primeira vez no ano de 1986. E desde
lá vem sendo, ano após ano renovado, mantendo esta vantagem a estes grupos,
tanto de excepcionais, vinculados à APAE, menores carentes ligados à FEBEM e ao
MAPA.
O Sr. Artur Zanella: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Vou votar a favor do Projeto, mas em conversa com a ex-Vereadora
Bernadete Vidal, suplente do Partido, que durante anos nos deu seu trabalho
aqui, e ela me lembra que existe a Lei nº 4.454, de 1978, que já institui a
passagem gratuita a pessoas excepcionais, sem falar em acompanhantes e sem
falar, evidentemente, na FEBEM e no MAPA. Consulto V. Exª, pois seu Projeto
amplia em termos de MAPA e FEBEM, e de acompanhantes, mas restringe somente a
pessoas ligadas a APAE, e os excepcionais que têm problema de visão, que não
estão ligados à APAE, surdos, também não se incluem. Consulto a V. Exª como
veria uma Emenda de Liderança mantendo para todos os excepcionais e não somente
para a APAE esta gratuidade.
O SR. NELSON CASTAN: Agradeço o aparte de V. Exª.
O Sr. Vicente Dutra: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Acho que se está confundindo excepcional com deficiente físico. O
deficiente físico, nós sabemos, e está aqui a Verª Bernadete Vidal, grande
lutadora pela causa do deficiente e o deficiente se divide em três, o
deficiente físico, o mental e o sensorial. O excepcional está na área do
mental. E hoje estamos concedendo para o excepcional...
O SR. NELSON CASTAN: Gostaria de
dizer ao Ver. Zanella que o Projeto como foi proposto ele tem uma
justificativa, ele tem uma lógica, tem uma coerência, e me parece que para os
objetivos que V. Exª também se propõe a participar conosco neste momento, a Emenda
não seria produtiva neste momento. Isso aí, eu entendo que pode ser uma questão
que possamos discutir posteriormente e quem sabe até examinar, porque esta Lei
que V. Exª faz referência não foi regulamentada. Ocorre que na cidade de Porto
Alegre, efetivamente, já estão isentos da tarifa no transporte coletivo esses
três grupos que eu privilegiei no meu Projeto de Lei. Eu entendo que os
excepcionais vinculados a APAE são aqueles que de uma forma mais contundente,
de uma forma necessária, efetivamente, precisam este auxílio. São pessoas que
precisam se deslocar, diariamente, não é para trabalhar, Ver. Zanella, é para
ir à escola, são estudantes que fazem um esforço muito grande para se tornarem
de certa forma úteis e podem ser assim, úteis à sociedade, uma vez que sua
condição é fruto do destino, fruto de uma infelicidade muito grande. Então eu
entendo que esse grupo de excepcionais, vinculados a APAE, são por demais
merecedores do apoio, da sensibilidade desta Casa. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. CLÓVIS BRUM (Questão de Ordem): Sr. Presidente,
solicito que a Mesa informe ao Plenário se há alguma Emenda alterando este
Projeto que não tenha sido apregoada.
O SR. PRESIDENTE: A Mesa informa
a V. Exª que existem em relação a este Projeto apresentado durante a Sessão,
através de Emenda de Líder, na forma regimental, quatro Emendas que serão
oportunamente apregoadas por esta Mesa e que não foram até o momento porque as
mesmas se encontram em xerox. No entanto, comunico a V. Exª que atendendo até a
própria Questão de Ordem e tendo recebido as Emendas da Assessoria Legislativa
da Casa, solicito ao Ver. Lauro Hagemann, 1° Secretário, que passe a
apregoá-las.
O
SR. ARTUR ZANELLA (Questão de Ordem): Sr.
Presidente, gostaria de saber para ter maior tranqüilidade para votar, se
aprovado o Projeto de Lei do Ver. Nelson Castan se revoga a Lei n° 4.454, de
1978 que em um de seus itens é mais ampla que a do Ver. Castan.
O SR. PRESIDENTE: O Projeto de
Lei no seu art. 6° contempla a revogação genérica das disposições em contrário,
no entanto, face aos princípios existentes na Lei de Introdução do Código Civil
e ser a matéria uma matéria que possui elementos complexos à questão de
revogabilidade das leis, solicitará um Parecer imediato da Auditoria da Casa e
oportunamente responderá à Questão de Ordem formulada pelo Ver. Zanella.
Obviamente que antes da votação. De outra parte, consulta ao Plenário se para
apreciação do Parecer das Emendas de Líderes, em número de quatro, já
apregoadas na Mesa, a Mesa exatamente consulta a V. Exas se suspende
os trabalhos ou não para apreciação das Emendas.
O SR. CLÓVIS BRUM (Questão de Ordem): Sr. Presidente,
lembro à Mesa que não chegaram a ser apregoadas as Emendas.
O SR. PRESIDENTE: A Mesa pede
escusas ao Ver. Clóvis Brum, após retifico e digo: consulto o Plenário se, após
a leitura das Emendas de Líderes existentes, nós suspendemos ou não os
trabalhos de discussão deste Projeto.
A Mesa solicita ao Sr. 1° Secretário que proceda à
apregoação das Emendas.
(O Sr. 1° Secretário apregoa as Emendas.)
O SR. CLÓVIS BRUM (Questão de Ordem): A Liderança do
PMDB se manifesta pela continuidade dos debates enquanto se processa os
Pareceres das Emendas.
O SR. PRESIDENTE (Isaac Ainhorn): A Mesa aceita a
sugestão da Liderança do PMDB. Enquanto o Sr. Relator exara o seu Parecer sobre
as Emendas, evidentemente, não há prejuízo na continuidade da discussão dos
Projetos. Se, porventura, algum dos Srs. Vereadores que esteja discutindo o
Projeto queira ter acesso às Emendas, através de cópia xerográfica, a Mesa
coloca à disposição dos Srs. Vereadores estas cópias.
A Mesa
responde à Questão de Ordem formulada pelo Ver. Artur Zanella. A matéria da revogação das leis é tratada
pelo Decreto Lei n° 4.657, de 04 de setembro de 1942, a chamada Lei de
Introdução ao Código Civil, contemplando três hipóteses de revogação de Lei. A
Lei posterior revoga a anterior, primeiro: quando expressamente o declare;
segundo: quando seja com ela incompatível; terceiro: quando regule inteiramente
a matéria de que tratava a Lei anterior.
Face às
três hipóteses, a Mesa entende que, como a revogação é genérica e, embora trate
da mesma matéria, há dispositivos que possam coexistir concomitantemente para
revogação da Lei n° 4.454 há necessidade de revogação expressa da mesma, sem o
que permanecerá vigendo os princípios da Lei n° 4.454/78 e os demais
dispositivos que vierem a ser aprovados por esta Casa.
O SR. ARTUR ZANELLA (Questão de Ordem): Sr. Presidente,
eu perguntaria a V. Exª se uma Emenda no Projeto de Lei do Ver. Castan,
ressalvando que continua vigendo aquela Lei, se ela seria uma tautologia ou
não.
O SR. PRESIDENTE: Rigorosamente,
a Mesa entende que seria uma tautologia, no entanto, o que abunda não
prejudica.
O SR. ARTUR ZANELLA: Então, eu
entrego a Emenda.
O SR. PRESIDENTE: A Mesa recebe a
Emenda do Ver. Artur Zanella e solicita que o Sr. 1° Secretário faça a
apregoação da mesma.
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, o Ver. Clóvis Brum para
discutir o PLL n° 038/89.
O SR. CLÓVIS BRUM: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, a Casa,
hoje, analisa um Projeto altamente social. A iniciativa do nobre Ver. Nelson
Castan amplia, por assim dizer, associando-se ao trabalho desenvolvido nesta
Casa pela então Verª Bernadete Vidal que nos honra com sua presença, a
iniciativa da mesma. O Projeto, Sr. Presidente e Srs. Vereadores é
profundamente humano. É um Projeto que reparte, entre aqueles que têm um pouco
mais, a tarefa social de oferecer condições para que os excepcionais e seus
acompanhantes, para que os menores e seus acompanhantes, tanto os menores da
FEBEM como os menores do
MAPA possam ter seu deslocamento tranqüilo. Eu estou confuso, Sr. Presidente,
eu estou profundamente confuso nesta tarde, confusão provocada pela
insensibilidade da Liderança do PT que teve a coragem, desumana. Sim, desumana
de consagrar assinando duas Emendas que tentam retirar das crianças carentes da
Cidade o direito sagrado da locomoção, o direito de ir e vir. Porque não se
concebe que num País de dimensões continentais como o nosso não se possa dar a
liberdade de ir e vir a uma criança que mora, por exemplo, no Passo Dorneles,
para vir a pé até o Centro da Cidade, no MAPA ou até a FEBEM. Esta não é a
liberdade que queremos, não é esta a liberdade social que pretendemos. Hoje,
Sr. Presidente e Srs. Vereadores, antes de o atilado e nobre Líder do PT chegar
à Casa, hoje a tarde, um
grupo de crianças que se encontram aqui, do MAPA, já estavam aqui postulando
por seus direitos sagrados de ir e vir, de receber a contribuição social que em
cima de todos nós é pesada. Ora, Sr. Presidente, se é verdade que sobre uma
grande propriedade rural pesa uma hipoteca social, não é menos verdade que
sobre os ombros daqueles que têm um pouco mais também pesa essa mesma hipoteca,
ou seja, distribuir com aqueles que nada têm um pouco daquilo que é seu. Sr.
Presidente e Srs. Vereadores, a Emenda do Ver. Koutzii quer retirar dos
benefícios do Projeto do Ver. Castan as crianças carentes da FEBEM, e das
crianças também carentes do MAPA. Ora, não é esse o PT que eu vi um dia na
televisão, não é esse o PT que ouvi na campanha eleitoral defendendo as
crianças famintas e pobres deste País. Não! Não é este PT, nobre Ver. Líder do
PT, este PT, hoje, quer dar liberdade para as crianças caminharem 10 ou 15 quilômetros a pé. Esta não é a
liberdade que eu vi na campanha eleitoral do PT.
Agora,
Sr. Presidente e Srs. Vereadores, concretamente, a Emenda n° 01 do Ver. Flávio
Koutzii tem que ser derrubada nesta tarde, ela traz um malefício às crianças
carentes desta Cidade. Ontem, por volta das 23h30min eu retornava de Canoas com
a minha mulher e passávamos na rota da Avenida Carlos Gomes com a Protásio
Alves. Ali três crianças dormiam em plena garoa.
O
Sr. Dilamar Machado: E o
albergue, Vereador?
O SR. CLÓVIS BRUM: O albergue deve
estar fechado, não sei. Três crianças dormiam sob o relento. Pode-se dizer que
chovia. Será que estas crianças não tinham casa? Ou será que estas crianças não
poderiam chegar de manhã cedo para vender seu jornal? Alguma coisa estava
acontecendo. Diz o Ver. Gert Schinke que o salário mínimo é 150 cruzados. Mas
estas crianças carentes não têm 150 cruzados. Estas crianças nada recebem. A
esta hora, nesta tarde, o PT tem que assumir uma linhagem clara e transparente.
Não se buscam posições paternalistas, não. Ninguém quer dar nada de presente.
Agora, dar às crianças excepcionais e seus acompanhantes, dar às crianças que
estão na FEBEM, dar às crianças que estão no MAPA para eles o que a Câmara vai
votar, hoje, para mim é um direito sagrado e para nós é uma obrigação. Ora, Sr.
Presidente, Srs. Vereadores, fabulosas fortunas se formam nesta Cidade, Cidade
de prédios gigantescos e avenidas fabulosas e ao lado destes prédios e destas
avenidas crianças carentes, famintas e esfarrapadas estão a exigir de todos
nós, com responsabilidade, com seriedade, a nossa contribuição. Foi feliz o
Ver. Nelson Castan ao apresentar este Projeto. Acho que a Casa resgata, nesta
tarde, uma dívida para com as crianças carentes e excepcionais desta Capital. E
espero que esta iniciativa da Casa, eu não espero, eu retifico, eu afirmo que
esta atitude da Câmara de Porto Alegre, hoje, haverá de sacudir as Câmaras
Municipais das capitais e haveremos de ter em todas as capitais brasileiras as
mesmas isenções para as crianças carentes, as crianças excepcionais e seus
acompanhantes. Ou será que o Vereador Líder do PT quer que um carente da FEBEM
tenha que assaltar no final da linha de ônibus para pagar a sua passagem? Ou
quer que um carente do MAPA tenha que assaltar lá na Vila Safira para poder
andar de ônibus? O que é que o PT quer? Eu tenho certeza de que o nobre Líder
do PT assinou estas Emendas discriminando, castigando duramente as crianças
carentes num momento impensado. Eu apelo ao Líder do Partido dos Trabalhadores,
a quem há poucos minutos atrás acompanhei com todo o meu calor e todo o meu
entusiasmo, que retire estas Emendas, pois estas Emendas, Sr. Presidente e Srs.
Vereadores, deixarão as crianças das vilas que têm que se locomover para esta
ou aquela instituição da FEBEM, as crianças da vila que têm que se locomover
para o MAPA sem direito de poder usar o ônibus. Esta história de que a criança
pode passar embaixo da roleta, os senhores sabem que está dando polícia.
O Sr. Artur Zanella: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Ver. Clóvis Brum, eu gostaria de saber qual seria a opinião da
Presidente do MAPA, nossa Profª Judith Dutra, a uma Emenda tão cruel como esta
do Ver. Flávio Koutzii. Esta parece uma crueldade que se faz hoje com a esposa
do Sr. Prefeito.
O SR. CLÓVIS BRUM: Eu concluo, Sr.
Presidente, eu tenho certeza absoluta que a Senhora Presidente do MAPA, ao
saber desta Emenda discriminatória e violenta porque está penalizando duramente
as crianças carentes da FEBEM e do MAPA, ao saber dessa Emenda não deverá
cumprimentar o Ver. Flávio Koutzii 365 dias. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Wilton Araújo): Próximo orador,
Ver. Adroaldo Corrêa.
O SR. ADROALDO CORRÊA: Sr. Presidente,
Srs. Vereadores, senhores
assistentes, o Ver. Clóvis Brum diz que está confuso e lança a confusão desde a
tribuna quando supõe que o Partido dos Trabalhadores, em algum momento de sua
trajetória e nas atuações em campanhas eleitorais, tenha proposto remediar e
não transformar radicalmente a sociedade. O Partido dos Trabalhadores não
pretende paliativos. Quando a nossa Emenda propõe que se mantenha ao menor
portador de deficiência, registrado na APAE e seu acompanhante, a manutenção,
agora em lei, da isenção da tarifa, propõe sabendo que esta é uma realidade que
nem um regime socialista transformará, apesar de uma situação objetivamente
verificada em uma família, a de ter um filho portador de deficiência, nós
sabemos que isso não se supera com a mudança do regime econômico que é o que
discrimina ao explorar o trabalho e provoca a pobreza. Acreditamos que a
manutenção deste item é o mérito que encontramos no Projeto do Ver. Nelson
Castan. Ademais, nós proporíamos aos Vereadores Clóvis Brum que momentaneamente
não se encontra em Plenário e que agora atento recolhe a informação, de que
encaminhe ao Governador do Estado, ao Secretário de Trabalho e Ação Social, que
junto aos menores da FEBEM tenha um programa capaz de propiciar àqueles menores
da FEBEM que precisam se locomover por ônibus, a tarifa gratuita, não apenas em
Porto Alegre, mas em todo o Estado. Porque o Governo do Estado também precisa
dar assistência ao direito de se locomover dos menores carentes deste Estado,
carência essa provocada pela miséria imposta à população brasileira como um
todo e aos trabalhadores pelo regime de exploração do trabalho de baixos
salários, e encaminha essa Emenda através da sua Bancada, na Assembléia.
Provavelmente encontrará guarida. Se o MAPA tem um programa de transporte para
os seus menores carentes para que eles possam chegar ao Centro da Cidade e se
beneficiar de programações feitas pelo Movimento Assistencial de Porto Alegre
deve prover, também, os seus menores, através dos custos desses programas,
custos esses que devem estar em orçamento municipal que deve ser votado por
esta Câmara no momento específico e não a cada lei, quando encontraremos outras
aqui nesta Câmara isentando, hoje o menor, amanhã o policial e todos estes
sendo pagos pelos trabalhadores que ganham salários cada vez mais miseráveis e que
são aqueles que se utilizam do ônibus nesta Cidade. Esta é a questão. Assim
como os municipários têm as tarifas de transporte, pela lei, distribuídas
através da Prefeitura, através de fichas, os programas sociais podem prover. O
mérito do Projeto do Ver. Nelson Castan se encontra reparado e salientado pela
Emenda n° 01, do Ver. Líder do PT Flávio Koutzii quando assegura ao menor
excepcional portador de deficiência que o obriga a andar acompanhado, ainda que
não queira, para ser assistido. Este é o mérito que encontramos no Projeto que
acompanhamos com verdadeira convicção, não apenas porque seria um paliativo,
porque é uma situação não-remediável, com uma transformação social que
buscamos, sim, no Partido dos Trabalhadores, e por mais radical que seja, portar
deficiência não é uma condição meramente do sistema econômico, ainda que dela
decorrente em muitos aspectos.
O Sr. Clóvis Brum: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Eu digo a V. Exª que me somo integralmente ao pronunciamento de V.
Exª no que se refere a que o Governador, a Assembléia Legislativa também
institua a passagem gratuita para os excepcionais, para carentes da FEBEM e
Órgãos outros que necessitem dos ônibus intermunicipais.
Acho
que a idéia de V. Exª traz, hoje, uma contribuição importante, e vou transmitir
ainda nesta tarde em telex ao Sr. Governador do Estado, aos Líderes de Bancada
na Assembléia Legislativa, incluindo o Líder do PT, e ao Presidente da
Assembléia Legislativa. E, nobre Vereador, o PT não pode transformar este País,
vai passar os quatro anos e não sai a transformação que pretende. No momento,
enquanto não se pode fazer a transformação, vamos dar a passagem gratuita para
os carentes da FEBEM e do MAPA, e nós já estamos bastante realizados.
O SR. ADROALDO CORRÊA: V. Exª que está
encerrando o Governo Estadual sabe das dificuldades da transformação, e apenas
agora, com a intervenção deste Vereador do PT, que tem seis meses na
Administração Municipal, recorda que seria possível o Estado ter uma iniciativa
mais meritória, mais abrangente do que a que estamos analisando neste momento.
E talvez fazendo autocrítica, leve em consideração a proposta e encaminhe ao
Governo do Estado a perspectiva de superar as dificuldades dos menores da FEBEM
de se locomover nesta Cidade e no Estado inteiro.
O Sr. Clóvis Brum: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Eu digo a V. Exª que farei o que prometi no meu aparte anterior,
mas quero ver o voto do PT favorável aos carentes. Sou grato.
O SR. ADROALDO CORRÊA: O voto do PT
está declarado no gesto da Emenda do Ver. Flávio Koutzii, que preserva dentro
do Projeto do Ver. Nelson Castan aquilo que de mérito é encontrado. E que não é
apenas paliativa ou apenas um passar de mãos na cabeça, que preserva o
problema, que não discute a essência, que é a miséria em que estão jogados os
trabalhadores neste momento, situação determinada não pela dificuldade de se
locomover mas, principalmente, pelo ganho de extrema carência a que estão
submetidos os trabalhadores neste País, no dia-a-dia dos seus empregos ou na
falta de empregos.
É
o que gostaríamos de ter dito, reparando que, objetivamente, o mérito se
encontra em relação aos portadores de deficiência e nisso acompanhamos o
Projeto. O restante achamos que a iniciativa do Executivo é capaz de superar,
nos programas sociais, com dotação orçamentária que não seja escondida na hora
de votar o orçamento, em cada Câmara, em cada Assembléia, que não seja
escondida a necessidade do programa social, porque não adianta ter uma agência,
não adianta ter as carências do menor anunciadas como assistidas e na hora de
suprir essas carências chamar-se o mutirão, o pedágio, a iniciativa do
Município, que é de quem as responsabilidades são cobradas, onde as pessoas,
realmente, estão vivendo suas dificuldades e o Estado tem as verbas para isso
ou deveria ter e deveria propor em seus orçamentos. Sou grato.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra,
o Ver. Elói Guimarães.
O SR. ELÓI GUIMARÃES: Sr. Presidente,
Srs. Vereadores, tivemos oportunidade, quando Secretário dos Transportes, de
durante dois anos assinar com a APAE, com a ATP e a CARRIS convênios no sentido
de isentar da tarifa os excepcionais. Por outro lado, o MAPA e a própria FEBEM,
em algumas oportunidades o MAPA, firmavam convênios no sentido de que os
carentes ali inscritos tivessem a gratuidade da tarifa. Então, é bom que se
diga, para deixar bem nítido o debate, que o Projeto visa, exatamente, regular
de forma definitiva essas situações fáticas que relacionam o Município com as atividades
aqui invocadas. Trata-se de um bom Projeto que formaliza, do ponto de vista
legal, e retira as impessoalidades de todo aquele relacionamento que se fazia e
que se faz atualmente. Nós temos um entendimento e já o sustentamos em algumas
oportunidades firmado no preceito constitucional. Nós entendemos que, para se
atingir a igualdade estabelecida na lei e na Constituição, devemos tratar com
desigualdade os desiguais. Só se alcança o preceito constitucional estabelecido
na própria Constituição tratando com desigualdade os desiguais. Acresce a
matéria uma questão excepcional e aí chegaríamos àquele juízo de que ao
excepcional, um tratamento excepcional pelas circunstâncias próprias, naturais,
da excepcionalidade.
Então, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, o Projeto é
bom, o Projeto procede, o Projeto tem que ser aprovado, deixado de lado,
evidentemente, as questões que tocam a emocionalidade natural, mas como
regulação que deve o poder, a câmara Municipal realizar, para tornar de forma
definitiva essa prerrogativa, se prerrogativa é, que o Poder Público faz com as
categorias mencionadas. Mas é bom que se diga que temos ouvido muitas - eu não
diria mentiras a respeito da questão da tarifa - eu diria ignorâncias, dados
levados aos meios de comunicação por ignorância, que é o caso da demissão, da
fundamentação dada à demissão de funcionários da Viação Teresópolis-Cavalhada,
que se demite porque sobrecarregava a tarifa. Isso não é mentira, porque
mentira é aquela formulação que se sabe equivocada e que se faz. Não, é pura, é
absoluta, é total ignorância. Eu gostaria de dizer que a questão da tarifa, que
está regrada por lei, tem os seus coeficientes e os seus preceitos. Como é que
se calcula a tarifa? Há coeficientes para cada elemento, por exemplo, motorista
é 1.90, pode a empresa admitir vinte motoristas por veículo, mas o que vale é
um ponto noventa; cobrador 1.90; fiscais 00,10; pessoal de manutenção 0,80.
Bem, aqui que se dá a questão da tarifa. Agora, vem a moça dizer nos jornais
que demite os funcionários porque sobrecarregavam a folha de pagamento. Não é
mentira, porque ela ignora. Temos que evitar essas informações equivocadas à
opinião pública. Mas quando se discute esse Projeto é bom que se diga, deixado
de lado a questão em que o conjunto da sociedade deve socorrer as camadas
carentes, é um entendimento que tivemos, entendemos que a sociedade, a
sociedade de classe, as camadas mais aquinhoadas têm de socorrer, sim, aquelas
que não têm recursos. Há alguns mecanismos a esse respeito. Mas é bom que se
diga que essa isenção vai para a tarifa, sim. É bom que se diga, claramente,
com conhecimento, que vai para a tarifa, sim, já está sobrecarregando a tarifa,
é verdade. Agora, cabe a nós examinar se em casos tais devemos sobrecarregar a
tarifa ou não. Isso aí é um juízo político e ideológico. A questão analisada
friamente, ao enfoque técnico do custo, sim, porque é preciso desmistificar a
discussão, desmistificar aquela discussão que fazia o PT no passado para se
colocar claramente, friamente a questão. Então, se nos perguntarem se carregar
o excepcional conta na tarifa, conta sim. Esta é a verdade, porque como um dos
aspectos e elementos fundamentais para se estabelecer a tarifa é o índice de
passageiros por quilometro, significa dizer quando tivermos mais passageiros
pagando nos ônibus, mais barata será a tarifa. São dados claros, técnicos,
frios. Agora, qual é o entendimento que se tem que ter a respeito dessa
matéria? Se nos afigura aquele preceito constitucional filosófico, a meu juízo,
nas circunstâncias atuais ideológico de que alguns setores da sociedade têm que
arcar com o ônus para que os setores da sociedade desamparados, marginalizados
sobrevivam, possam viver aí nessa sociedade desigual, violentamente desigual,
vivemos numa sociedade violentamente desigual, então é necessário, no limite
das possibilidades, que alguns mecanismos se coloquem para socorrer as classes
ou categorias marginalizadas.
Acresce, reitero, a questão do excepcional, o
excepcional, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, pela natureza é alguém que
carece necessariamente de um tratamento excepcional, e se carece de um
tratamento excepcional e se a Constituição e o nosso juízo de consciência,
ideológico, de valor, diz que para se atingir o preceito tem que se dar
tratamento igual às pessoas, não há outra saída a buscarmos senão a aprovação
do presente Projeto. Dirão, neste caso e noutros casos mais, sobrecarrega, é um
custo. É um custo, sim, é bom que se diga claro. Mas é um custo que nós temos
que pagar, é um custo que a sociedade tem que pagar, evidentemente, quem
utiliza o ônibus é o trabalhador. É verdade, na sua maioria é o trabalhador.
Mas não temos nas circunstâncias atuais outros mecanismos senão este. Se trata,
Sr. Presidente e Srs. Vereadores, de transformar na espécie uma prática que vem
fazendo o Município, transformar em lei, basicamente, é o caso do excepcional
que, por convênio, eu tive a honra e a oportunidade de firmar duas vezes. É um
convênio que firma o Município pelos seus mecanismos com a APAE e com a ATP e a
CARRIS, estabelecendo a isenção. Agora transformado em lei torna a matéria
muito mais participativa do ponto de vista de uma manifestação da Câmara
Municipal de Porto Alegre, que é exatamente a representação mais, diríamos
assim representativa dos diferentes segmentos da população, do povo de Porto
Alegre. Portanto, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, entendemos que o Projeto de
Lei é bom, não há como dar-se tratamento diferente. Agora, tem que se dizer,
também, para ser bem claro, para não fazer obra de mistificação, jogar para lá
ou para cá, dizer que são custos que vão para a conta de quem paga a tarifa.
Essa é toda a verdade a respeito da presente matéria. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Próximo orador
inscrito é o Ver. Vicente Dutra.
O SR. VICENTE DUTRA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, há uma
discussão nos meios médicos e de ensino deste País, para dimensionar o
percentual de excepcionais que vivem neste País. Os números vão de 13 a 25%.
Este é o número da excepcionalidade neste País. É evidente que nestes 25%
estariam incluídos todos os tipos de deficiência: sensorial, mental, física e,
também, alguns tipos de esquizofrenia. Estariam fora os alcoólatras, que não
estão nestes 25%. Se ficarmos com o número mais baixo, que é em torno de 13%, vamos
verificar com tristeza que os orçamentos públicos, que o interesse público, que
o Poder Público que deveria cuidar de todos não contempla os excepcionais nem
em 1%, quanto mais em 10 ou 13%, que seria o número mínimo desejado.
Dando
um exemplo, teríamos que ter nas verbas públicas considerando que 13% da
população tem um tipo de deficiência, pelo menos 13% das verbas deveriam ser
carreadas para escolas de excepcionais. Deveria ser 26%, se fosse 13%. Por que
26%? Porque o ensino especializado é muito mais caro. Quanto custa para manter
uma escola tipo Educandário São João Batista, que precisa de terapeutas, que
precisa de piscinas especiais de uma série de equipamentos caros e de
manutenção cara?
Então
o custo para manter estes 13% de deficientes seria muito maior do que esse que
é dado, no entanto, o que se vê no orçamento são verbas insignificantes para a
manutenção desse ensino especializado. Este é um aspecto do problema. Não vamos
contar o problema desse excepcional em casa. Queira Deus não pertença a uma
família pobre porque, então, é rejeitado totalmente. Vemos no jornal todos os
dias sobre menores acorrentados, aprisionados, porque não tendo a família onde
colocá-lo, cria em casa como um bicho. Esta é a triste e negra realidade em que
vive o País. Agora, vem à Câmara a oportunidade de remediar, não resolve o
problema. Vamos fazer um curativo e o façamos bem feito. Vamos deixar de lado
nossas defesas com relação ao complexo de transporte coletivo que vai onerar a
sociedade. Claro que vai onerar a sociedade! Ninguém quer esconder isto, mas é
a forma da sociedade participar. A sociedade tem que participar pressionando,
elegendo seus representantes para que se corrijam essas anomalias sociais
gritantes a que assistimos a todo momento. Esta Casa, ao examinar este
processo, funciona como uma figura que uma vez me trouxe o ex-Deputado Augusto
Trein e que achei muito interessante. Funciona como um hospital de campanha, de
guerra, e nós não somos responsáveis por esta guerra, estamos com os pacientes
em mãos para resolver seus problemas. Alguns precisam de sangue. Tirar sangue
de alguém nunca foi desejável, mas se alguém tem sangue e está são que dê para
quem necessita. Se alguém tem algum recurso ainda que dê um centavo que seja
para poder permitir que os deficientes possam se deslocar. Os carentes também.
Vejo que será corrigido o problema do menor carente, menor da FEBEM e do MAPA,
a que assistimos, nos ônibus, passar por baixo ou por cima, é briga com o
motorista, é um constrangimento terrível que passa o maior produto que o Brasil
tem, que é a criança. Vamos tirar este vexame. Se ele é aluno da FEBEM ou se
ele é um cliente atendido pelo MAPA, ele então será atendido através de um
passe para poder viajar de ônibus, deslocando-se de sua casa para o local onde
trabalha, onde se realiza o curso.
A
Emenda que está sendo apresentada pelo Ver. Luiz Braz, Emenda n° 04, e chamo a
atenção dos Srs. Vereadores porque ela disciplina e fixa critérios definidos
para que este universo de pessoas beneficiadas pela lei não aumente
infinitamente. O excepcional é aquele que a APAE expedirá a sua carteira. Não
há problema nenhum, e junto com a acompanhante. Os menores da FEBEM serão
aqueles assistidos diretamente pela entidade. Vejam bem, a FEBEM não poderá
expedir carteiras para todos os menores e não poderá, também, expedir carteiras
àquelas entidades que são conveniadas com a FEBEM. Nós sabemos que a FEBEM
atende, diretamente, através dos seus professores e assistentes sociais, pelas
casas da FEBEM e também ela faz convênios com outras entidades privadas ou
públicas para receber recursos da FEBEM. Estes outros, atendidos indiretamente
pela FEBEM não serão beneficiados porque daí, então, o número seria infinito.
Nós vamos atender o menor da FEBEM, aquele que é órfão, que tem problemas. Este
menor, terrivelmente carenciado, receberá o benefício. Quanto ao MAPA, o MAPA
terá um universo bem reduzido, porque na Emenda n° 04 apresentada pelo Ver.
Luiz Braz diz que o MAPA expedirá o atestado aos menores assistidos diretamente
pela entidade. O MAPA, também, não poderá dar carteiras para todos os menores
ao seu bel prazer, e sim só àqueles atendidos pela entidade em cursos ou
atividades que ocupem o menor, pelo menos um turno. Eu tenho certeza de que a
Dona Judith, no momento, não faria esta distribuição em massa de carteiras, mas
nós sabemos o que vem pela frente. Então, poderá uma Presidenta, no futuro, se
não constasse esta restrição, aqui, expedir carteira para qualquer menor do
MAPA. Não, este menor para receber o benefício ele tem que participar, pelo
menos um turno de uma atividade do MAPA. Recebe a sua caixinha, recebe a sua
orientação, almoça por conta do MAPA. Agora, fecharam o restaurante do DMLU que
fornecia as refeições. Abro um parêntese e faço um apelo para que se reabra aquele
restaurante, porque além de beneficiar os pobres operários do DMLU, também
beneficiava os carentes alunos da Dona Janice Dib e da Dona Inês Vilella e
outras que fundaram o MAPA. Então, vamos reabrir para que Dona Judith também
possa dar alimentação aos menores do MAPA. Estes menores, então, que pelo menos
sejam assistidos em um turno, e aqui nós colocamos um turno porque entendemos
que o MAPA deve estipular que, num turno, o menor estude e, no outro, trabalhe
ou participe de uma atividade de curso. A Dona Judith esteve aqui. Nós
discutimos com ela, amplamente, este assunto. Ficou acertado que este Vereador
apresentaria uma Emenda. Como a Emenda só pode ser apresentada por Liderança, o
Ver. Luiz Braz então pediu que ele assinasse como Líder e nós, com muita honra,
pedimos ao Ver. Luiz Braz que assinasse. Pedimos aos Vereadores que prestem
atenção à Emenda n° 04, que fixa os critérios de atendimento, não amplia, nem
diminui, apenas dá àqueles que realmente merecem.
O Sr. Clóvis Brum: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Meu aparte é apenas para transmitir a V. Exª e ao Plenário que
acabei de emitir um Parecer favorável exatamente a esta Emenda. Entendia eu que
fosse de autoria do Ver. Luiz Braz e, no Parecer, me referi a ele. Mas faço
agora uma referência de público, dizendo a V. Exª que a sua Emenda é oportuna,
legal, regimental e tem mérito.
O SR. VICENTE DUTRA: Muito obrigado,
Vereador. V. Exª age com muita lucidez ao dar apoio a esta Emenda. Tenho
certeza, e me dirijo aqui aos amigos da APAE e das entidades que dirigem os
excepcionais em Porto Alegre que podem ficar tranqüilos, que esta Casa, por
unanimidade, haverá de dar guarida a este Projeto de Lei que tem mérito e vem
corrigir uma anomalia que existe em Porto Alegre, que é não permitir que os
menores carentes ou que sofrem de alguma excepcionalidade saiam de suas casas
porque não têm dinheiro para se deslocarem até a escola, onde farão um curso,
ou poderão ter algum tipo de recuperação. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Lauro Hagemann): Com a palavra,
o Ver. Ervino Besson.
O SR. ERVINO BESSON: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, senhoras
e senhores no Plenário. Este Vereador conhece os problemas enfrentados pelas
casas assistenciais e asilos, com seus internos e externos, portadores de
deficiência física. Eu, na medida do possível tenho acompanhado o trabalho
dessas instituições de caridade, a luta, as dificuldades para dar o atendimento
àquelas pessoas menos favorecidas pela sorte. Dias atrás, como faço seguidamente,
fui visitar uma instituição de caridade de nossa Cidade, o Santa Luzia, e lá
uma irmã, com motorista, estava saindo para a Ceasa. Perguntei a ela, porque
moro perto do Instituto, por que ela se dirigia, quase que diariamente à Ceasa,
e ela disse: “Ervino, temos aqui, entre internos e externos, a média de 150,
160 pessoas com deficiência de visão e a ajuda que recebemos do Governo do
Estado cobre 30% do custo de cada aluno que temos aqui no Instituto”. E o
restante, Irmã, perguntei. E ela me respondeu: “O restante é a comunidade que
nos auxilia; e com nossos pedidos, por exemplo, na Ceasa, chagando de banca em
banca pedindo, implorando alguma verdura, alguma fruta para trazer para o Santa
Luzia”.
Sr.
Presidente, Srs. Vereadores, vejam bem a luta destas nossas casas de caridade,
destas nossas instituições de caridade de nossa Cidade!
Portanto,
este Vereador está de pleno acordo e dará apoio a este Projeto do nobre Ver.
Castan.
Graças
a Deus que nós somos favorecidos pela sorte. Que nós somos seres humanos
perfeitos. Mas nós temos, sim, que olhar para o outro lado, para o lado desta
nossa irmandade. Desta nossa família que tem deficientes físicos. São seres
humanos e são pessoas iguais a nós, são pessoas que merecem o nosso apoio e o
nosso calor humano. “Lição viva de que é possível o homem viver em fraternidade
com os seus semelhantes – palavra de S. Santidade o Papa João Paulo II em sua
visita ao Brasil em 1980 – como consideração humana, como conquista que
superará graves problemas, como medida capaz de amenizar agruras, a prover
melhor a subsistência como ato que empolga o coração humano, a mostrar que não
estamos sozinhos, como concentração de esforços na busca de soluções
duradouras, como contribuição social, com o óbolo de toda a sociedade aos seus membros
menos favorecidos pela sorte.” Vejam bem, Senhoras e Senhores, fica aqui aos
nobres Vereadores, nesta tribuna, o apelo para que dêem seu voto favorável ao
Projeto do nobre Ver. Castan.
Eu
também tenho um Projeto que está em andamento nesta Casa, n° 1149/89, o qual
também vai beneficiar deficientes físicos e pessoas menos favorecidas pela
sorte que forem diagnosticadas pela nossa Previdência Social. Também creio que,
breve, vai entrar em votação nesta Casa este Projeto. Tenho a certeza de que os
nobres Vereadores, sensibilizados por estes menos favorecidos pela sorte,
também darão o apoio à aprovação deste Projeto. Sou grato.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra,
o Ver. José Valdir.
O SR. JOSÉ VALDIR: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, eu
votarei a favor do Projeto com as Emendas apresentadas pela Bancada do Partido
dos Trabalhadores através do Líder Flávio Koutzii, mas antes de me referir ao
Projeto gostaria de rebater algumas colocações do nobre Ver. Clóvis Brum,
feitas há pouco nesta tribuna. Não é a primeira vez que o nobre Ver. Clóvis
Brum e outros pretendem apontar supostas incoerências do Partido dos
Trabalhadores, dar puxão de orelha, como querendo credenciar-se para ser uma
espécie de “voz da consciência” do PT.
Então,
o Ver. Clóvis Brum classifica a Emenda de cruel e diz, ainda, que somos
incoerentes. Eu gostaria de deixar bem claro que nesta discussão de fato
existem duas concepções políticas bem claras e que nós não somos incoerentes,
pelo contrário, somos de uma coerência cristalina ao colocar a questão da forma
que estamos colocando e o Ver. Clóvis Brum também é coerente com o projeto
político que defende. O Ver. Clóvis Brum, como um legítimo representante do
PMDB, tem responsabilidades muito claras a respeito da miséria que hoje está
esse País. É conhecida a política em nível nacional, levada pelo PMDB. A
maioria dos parlamentares do PMDB apoiou esta Nova República que está aí no
Congresso Nacional, a maioria fechou com o Centrão e lá não deixou passar a
Reforma Agrária que é uma das bandeiras importantíssimas para frear a miséria
que a cada dia aumenta nas grandes cidades. O PMDB fechou majoritariamente no
Congresso Nacional contra a Reforma Agrária. O arrocho salarial, está aí o
Sarney agora achando muito alto o salário-mínimo. Deu cinco anos para o Sarney.
O SR. LUIZ MACHADO (Questão de Ordem): Solicito que o
nobre orador se atenha a matéria discutida.
O SR. PRESIDENTE (Clóvis Brum): É procedente a
Questão de Ordem do Ver. Luiz Machado. A Mesa agradece e pede ao nobre orador
que se atenha ao pronunciamento em objeto.
O SR. JOSÉ VALDIR: Gostaria de
registrar que há certos Vereadores que gostam de dizer o que querem, mas não
gostam de ouvir o que não querem. Mas vão ouvir, nobre Vereador, porque foi V.
Exª que aqui da tribuna nos chamou de incoerente. E eu estou dizendo que nós
somos coerentes e V. Exª também é coerente porque o seu Partido defendeu no
Congresso Nacional, ao mesmo tempo em que era contra a Reforma Agrária, ao
mesmo tempo em que ajudou a perpetuar essa política de arrocho salarial, ao
mesmo tempo em que sustentou o Sarney (agora parece não sustentar mais), ao
mesmo tempo em que defendia tudo isso, contribuía também para referendar a
política de pagar a dívida externa com o suor e o sangue dos trabalhadores. É
interessante, e aí é coerente o Vereador quando chama a nossa Emenda de cruel,
a visão do Vereador e a visão dos setores importantes do PMDB, ao mesmo tempo
em que defendem esta política de massacre à classe trabalhadora, vão às vilas
dar leite e fazer política em cima da miséria. O Projeto do PMDB realmente é
este: uma política de sustentar a miséria para, depois, fazer política
assistencial que na verdade não é assistencial - não sou contra a política de
assistência - é uma mera politicagem nas vilas. Contribui para criar a miséria,
contribui para manter a miséria para, depois, faturar em cima da miséria. A
nossa política é completamente diferente, nós somos totalmente coerentes. Nós
temos um projeto político, a longo prazo, de erradicar a miséria. Nós
discordamos, também, da concepção de colocar o trabalhador como um coitado,
porque achamos que trabalhador não é coitado, trabalhador é alguém explorado
por esse capitalismo selvagem em que nós vivemos, o trabalhador é um cidadão
que tem direitos. E não se diga aqui que nós não estamos a pregar que só no
futuro os problemas vão-se resolver, que não temos propostas também a curto
prazo. Temos. E é por isso que apresentamos essa Emenda porque, a curto prazo
nós já temos que começar a inverter as prioridades. Nós concordamos com a
primeira formulação do Projeto em relação à APAE. O Ver. Heriberto, num outro
dia, colocou que problema do excepcional é uma infelicidade da natureza. Agora,
quem pega ônibus? Não me consta, a não ser eventualmente, que o burguês da
piscina particular pegue ônibus. Quem pega ônibus é o operário, o trabalhador.
Então, nós estamos fazendo uma Emenda exatamente para evitar que a miséria seja
socializada. Dar ajuda aos menores marginalizados, sim, mas não com a população
trabalhadora das vilas - porque isso vai ser incluído no custo da tarifa -
pagando esse ônus. Nós achamos que, a curto prazo, tem que haver ajuda,
enquanto não erradicamos a miséria. Agora, como fazer isso? Achamos que existem
outras formas. É preciso que as empresas, por exemplo, adotem uma política de
salário indireto através de subsídio aos seus empregados, auxílio transporte.
Além disso é preciso responsabilizar o Poder Público que arrecada o dinheiro
não só dos trabalhadores, mas arrecada dinheiro de burguês que trafega no
flamante automóvel último tipo, o burguês da piscina particular, o burguês do
iate (e na nossa visão esses têm que pagar mais impostos). Com esse dinheiro,
através de uma dotação orçamentária específica, seria possível auxiliar esses
setores necessitados. Na nossa visão, da maneira como pode passar esse Projeto
aqui significa que quem vai arcar com o ônus da gratuidade da passagem é o
próprio trabalhador porque é este que utiliza o ônibus.
O Sr. João Dib: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Muito justa a Emenda do Ver. Flávio Koutzii, porque aquele que tem
bastante recurso, ele, inclusive, esconde seu filho excepcional e aquele que
tem poucos recursos tem que transportá-lo de ônibus, com o carinho e o amor que
Deus lhe colocou no coração. Então, é extremamente justa a Emenda e tem o meu
apoio.
O SR. JOSÉ VALDIR: Quero colocar
que, na nossa visão, não existe incoerência nenhuma entre o que defendemos
sempre na campanha e aquilo que o PT prega. Nossa política não é a política
fácil de tripudiar em cima da miséria, a política que defendemos é que os
trabalhadores têm que se organizar para mudar este País e acabar com a miséria.
Sou grato.
(Revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: A palavra, com
o Ver. Dilamar Machado por transposição de tempo com o Ver. Heriberto Back.
O SR. JOSÉ VALDIR: Sr. Presidente,
Srs. Vereadores, é claro que a discussão vai longe e eu vou procurar ser bem
breve, muito breve. Quantos são os excepcionais registrados na Associação de
Pais e Amigos dos Excepcionais em Porto Alegre? Vereadores que discutem tão
acirradamente esta matéria teriam por acaso uma idéia do número de excepcionais
que estão regularmente registrados na APAE? São 3.116 excepcionais que estão
registrados na APAE. Desses 3.116, segundo informações de dirigentes desta
entidade, 2.500 e mais 500 acompanhantes já estão assistidos através do serviço
de transporte. Então, estaríamos discutindo este Projeto do Ver. Castan para
dar essa assistência a mais 600 excepcionais dos registrados. Agora, qual é a realidade
da criança excepcional, do menor excepcional em Porto Alegre? Quando Diretor do
DEMHAB, num pequeno levantamento feito pelo modesto Serviço Social daquele
Departamento, nos levou à dolorosa constatação que na Vila Restinga existem
mais de três mil excepcionais sem assistência. É evidente que não vamos
discutir aqui a colocação do Ver. José Valdir, que até tem fundamento, ninguém
quer jogar em cima da desgraça, da pobreza, da imensa maioria da população. Não
sei também, e nem quero levantar a polêmica se algum dos colegas Vereadores têm
um filho ou uma filha excepcional. Eu acho que só julga o drama do filho
excepcional o pai e a mãe do excepcional. Durante muitos anos, quando
trabalhava em rádio, eu convivi com este problema, como por exemplo da falta de
uma cama hospitalar, muitas crianças precisam, pela impossibilidade, até de uma
cama especial, de uma cadeira de rodas, de cirurgias, de medicação adequada.
Eu, até há pouco tempo ouvi na televisão e consultava os companheiros da APAE
aqui presentes que no RGS existem, hoje, cerca de 240 mil excepcionais e apenas
10% desta população é cadastrada pela APAE. Encerro dando o meu voto, vou votar
com o Projeto, pelo mérito, pela iniciativa, pela normatização de um problema
que é social e é de todos nós. Se não atinge diretamente, atinge indiretamente.
Vou votar a partir da Emenda n° 03, contra a Emenda n° 01 e 02, sem discutir as
questões da FEBEM e do MAPA, que é o drama da população infantil abandonada
desta Cidade, marginalizada, levada para uma vida miserável, condenada ao
nascer à marginalização.
Voto a favor da Emenda n° 03, do Ver. Flávio
Koutzii, que me parece uma Emenda muito lógica, até para simplificar. Quando
participava da Administração do Prefeito Collares muitas vezes iam pessoas lá
no DEMHAB, na Av. Princesa Isabel, por me saberem ligados diretamente ao
Prefeito e à Administração para apadrinhar uma pessoa para poder tirar uma
carteira de idoso da SMT, quando o titular era uma pessoa de bem, o Ver. Elói
Guimarães, nosso companheiro de Partido e de luta popular, mas é que a
burocracia acaba espantando o povo, levando o povo para longe, criando
barreiras. Acho que a Emenda n° 03, do Ver. Flávio Koutzii, merece a aprovação,
inclusive da Bancada do PDT. Pois é a APAE que arca, efetivamente, diuturnamente,
com o drama do excepcional, que já foi qualificado por uma professora como o
ser humano mais doce que existe. A APAE é que tem condições de dizer quem,
efetivamente, merece. Não é o benefício, nem privilégio, é um direito que
adquire através de uma lei.
O Sr. Vieira da Cunha: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Para dizer a V. Exª que o Projeto original do Ver. Nelson Castan já
contém a mesma Emenda n° 03 do Ver. Flávio Koutzii, apenas a Emenda n° 03
suprime; aliás, coerentemente com o que está defendendo o PT - a possibilidade
do MAPA e da FEBEM, também, de emitirem esta identificação, esta carteira. A
Emenda do Ver. Flávio Koutzii apenas é supressiva, mas a idéia que V. Exª
defende, que também defendemos, é defendida pelo Ver. Nelson Castan que já tem
no seu Projeto, originalmente, apresentado esta preocupação. Portanto, se V.
Exª estiver votando favorável à Emenda n° 03, na verdade estaria indiretamente
se filiando à tese levantada pela Bancada do PT, que o MAPA e a FEBEM não têm o
mesmo direito.
O SR. DILAMAR MACHADO: Agradeço a V.
Exª e acabo de retirar o meu apoio à Emenda n° 03.
O Sr. Nelson Castan: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Somente para esclarecer a V. Exª. A Emenda n° 01, do Líder do PT,
exclui do meu Projeto o benefício aos menores carentes da FEBEM e do MAPA. A
Emenda n° 02 do mesmo Vereador e a Emenda n° 03 são decorrentes da Emenda n°
01. Então, votando-se contra a Emenda n° 01, automaticamente, por coerência se
estará votando contra a 02 e a 03. A sua preocupação está contemplada na Emenda
n° 04, de autoria do Ver. Braz e do Ver. Vicente Dutra, que especifica a
clientela, o público alvo desse Projeto e torna mais amena essa burocracia, que
é a preocupação de V. Exª.
O SR. DILAMAR MACHADO: Eu agradeço a
V. Exª. Só para concluir, ao nobre colega José Valdir que ao final de seu
discurso disse do cuidado que o Partido dos Trabalhadores tem com a classe
trabalhadora.
Evidente que, hoje, é um dia diferente, com muitos
projetos para votarmos e vem mais um projeto polêmico, aí, do Ver. Edi Morelli,
o Projeto das camisinhas, mas eu vou aguardar da Bancada do PT do Ver. Koutzii,
do Ver. Valdir, talvez amanhã ou até o final desta semana uma posição da
Bancada do Partido dos Trabalhadores contra os atos de demissão que ocorrem e
que estão ocorrendo hoje, ainda, Ver. José Valdir na VTC. Mais seis motoristas,
cobradores, fiscais foram demitidos hoje à tarde, nenhum deles ligado a
transporte de carga, nenhum ligado a táxi-lotação, são trabalhadores com oito,
dez, quinze, vinte anos de serviço na VTC e o que é mais grave, Ver. José
Valdir, não é para diminuir tarifa, não é para diminuir a folha, porque nos
últimos dias foram admitidos dezessete cobradoras e demitidos dezesseis
cobradores de longo tempo de permanência na empresa e, hoje, exatamente neste
momento, na frente da VTC, há uma fila de pessoas chamadas para serem
admitidas, por onde foi feito o chamado eu não sei, em que jornal foi
publicado, eu não sei. Agora se V. Exª diz que o Partido tem um cuidado com a
classe trabalhadora, cuide dos trabalhadores da VTC que estão sendo perseguidos
de forma política e indigna pela Interventora, Srª Ruth D’Agostine. Eu não sei
se esta Senhora é filiada ao PT, eu acho que não. Pelo que eu conheço da luta
histórica do Partido dos Trabalhadores, eu não acredito que a Srª Ruth
D’Agostine esteja filiada ao PT e mais, não acredito que seja funcionária do
Município de Porto Alegre, não acho que seja funcionária da SMT onde também,
por ser de lá funcionário, conheço o espírito de seus trabalhadores, não deve
ser do PT e não deve ser da SMT. Deve ser dessas pessoas arrebanhadas aí, ao
longo do processo e que está prejudicando de forma indelével e grave a imagem
pura do Partido que se diz dos Trabalhadores. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Chamamos a
atenção dos Srs. Vereadores que integram as Comissões Permanentes de Justiça e
Redação; Urbanização, Transporte e Habitação; Educação e Cultura; Economia e
Defesa do Consumidor; Saúde e Meio Ambiente que tão logo haja “quorum” destas
Comissões em Plenário nós votaremos os Pareceres dos Projetos que já estão
prontos. No momento em que houver “quorum” suspenderemos os trabalhos da Ordem
do Dia, abriremos a reunião conjunta das Comissões, votaremos o Parecer e
retornaremos à Ordem do Dia da presente Sessão.
Próximo orador inscrito, Ver. Heriberto Back.
O SR. HERIBERTO BACK: Sr. Presidente
e Srs. Vereadores, diria, inicialmente, que até gostei do pronunciamento do
Ver. Nelson Castan, da parte inicial do pronunciamento do Ver. Dilamar Machado
e não gostei do pronunciamento do Ver. Clóvis Brum. Diria que para deixar
absolutamente claro nós vamos manter os convênios com a FEBEM que dão o direito
à passagem gratuita. Isso o Ver. Clóvis Brum sabe. Sabe tanto quanto eu, que
sou do Partido do Governo e, no entanto, faz um imenso discurso, um imenso
carnaval. Cheguei a me preocupar durante o discurso do Ver. Brum, que é meu
amigo de longos anos, e disse a ele que se por um lado me preocupava esse
discurso destemperado, que é usual, por outro lado, com o meu amigo eu tinha
uma grande tranqüilidade. Se um dia esta Cidade tivesse a desgraça de não vê-lo
reconduzido a esta Câmara, o que seria uma desgraça para esta Cidade, a vida do
meu amigo Ver. Clóvis Brum estaria perfeitamente garantida, porque é o melhor
ator que eu conheço em Porto Alegre. Ele teria, seguramente, emprego altamente
rendoso na “Globo” ou em qualquer das grandes emissoras de televisão deste
País. Seguramente, é o melhor ator que eu conheço desde os meus tempos de banco
de escola. Não é bom, é o melhor. Agora, me preocupou quando o Ver. Clóvis Brum
diz que nós vamos tirar a passagem das crianças. Eu quero saber se o Ver.
Clóvis Brum vai pleitear junto ao Governo da Nova República, do Estado, se
realmente o Estado vai dar assistência real a estes menores da FEBEM. Estes
convênios que o Governo do Estado, o Governo da Nação fazem com estas
instituições é uma vergonha nacional. É assim a exploração política da miséria
da nossa gente. O Ver. Clóvis Brum quer que este País continue sem Reforma
Agrária para que as famílias continuem vindo para a cidade, jogadas à
marginalização, porque assim votaram no Congresso Nacional a Constituinte. E
quer, por quê? Porque têm duas formas de fazer política. É fazer a política da
solução dos problemas, e esta é a verdadeira política, e é fazer a política do
favor, a política da dependência. E fazer a política da dependência é levar
propositadamente a população deste País à mais extrema miséria, a mais extrema
necessidade para, depois, apresentar um programa assistencial, o ticket do
leite, a FEBEM, a LBA, todos estes convênios miseráveis. Quer dizer, levam a
população à mais extrema miséria, fazem um convênio e ainda querem que esta
população fique profundamente agradecida pelas migalhas que lhes atiram,
buscando transformá-la em base social de apoio.
O Ver. Clóvis Brum quer tornar lei, neste País, a
miséria.
O Sr. Clóvis Brum: V. Exª permite um aparte?
O SR. HERIBERTO BACK: Quando eu
concluir o meu raciocínio. O Ver. Clóvis Brum quer institucionalizar a miséria
no País. É muito bom, e é assim que funciona a política, que as coisas vão mal,
que a miséria continue, porque sempre alguém vai depender de algum político
para fazer um favor, um convênio, uma lei. É assim que está funcionando a
política neste País, por isso a inutilidade com que a política neste País,
hoje, está sendo vista aos olhos do povo. Então o meu nobre, meu velho amigo
Ver. Clóvis Brum quer fazer uma lei. Os menores da FEBEM estão condenados a
serem eternamente carentes porque é lei, a partir de hoje, se for aprovado
isso. Os menores do MAPA estão condenados a serem eternamente pedintes,
carentes porque é lei. Não foi esta a intenção do Ver. Nelson Castan, nem é a
intenção daqueles que apóiam este Projeto, mas esta é a intenção do Ver. Clóvis
Brum - tornar lei a miséria neste País. Mas diferente é a situação dos
excepcionais.
O Sr. Clóvis Brum: V. Exª permite um aparte?
O SR. HERIBERTO BACK: Eu peço
desculpas Ver. Clóvis Brum, mas como ele é tão brilhante, de repente, se eu der
um aparte, ele poderá dar uma empanada no meu raciocínio.
Eu queria, realmente, passar à parte que eu
considero profundamente séria do meu pronunciamento, até porque até agora, de
repente, pode ser que eu esteja fazendo um pouco de imagens, tentando seguir a
escola do Ver. Clóvis Brum. Mas, agora, eu quero realmente falar sério. É sobre
a questão dos excepcionais. Inclusive eu queria retificar, aqui da tribuna, um
pronunciamento que eu fiz outro dia quando recomendava ao Ver. Nelson Castan que
retirasse as duas últimas partes, da FEBEM e do MAPA e deixasse apenas os
excepcionais, porque dizia que ser da FEBEM e ser do MAPA é uma contingência de
uma sociedade injusta, que nós temos que batalhar para mudar e não transformar
em lei esta sociedade injusta. Agora, ser excepcional é um acidente da natureza
e um acidente da natureza, dizia eu, deve ser arcado por toda a sociedade. Mas
eu acredito que não me expressei bem, porque expressando-me assim eu diria que
os excepcionais são um peso para a sociedade. E eu acho que não. Eles são um
peso quando são desassistidos. Há uma frase que diz que Deus compensa uma
deficiência com outra qualidade que se torna excepcional, talvez, por isso se
chame de “excepcional”. Outro dia conversava numa reunião, lá no Bairro
Cristal, com o Diretor da Escola Eupídio Paes, tivemos uma grande luta para a
construção daquela escola, e ele dizia o seguinte: “minha filha anda em uma
cadeira de rodas, mas eu não posso me considerar um homem infeliz, porque essa
menina me traz tanta felicidade, me compensa em tanto o serviço que tenho com
ela, que me considero um homem extremamente feliz”. Então, acho que fui infeliz
quando disse que a sociedade arca com isso, e tenho um exemplo muito próximo: o
meu melhor assessor é deficiente físico e é o melhor, sem diminuir os demais,
me considero com uma das melhores assessorias nesta Casa, e ele é reconhecido
em toda a Zona Sul da Cidade, no movimento comunitário, no movimento político,
por unanimidade é figura respeitada por sua competência, por sua capacidade,
por seu dinamismo, anda com duas muletas, mora no meio do mato, vai a pé todos
os dias e estuda na Unisinos. Trabalhava na RBS, no horário comercial, antes de
vir para cá e, seguramente, é o que mais trabalha no meu gabinete, sem desmerecer
os demais. Diria que talvez seja por isso que eles são chamados de
excepcionais, porque um defeito que tenham é compensado pela agudeza de outras
capacidades. E acho que são excepcionalmente úteis à sociedade, e muito inútil
vai ser a sociedade sentir isso como um peso. Eles serão um peso se a sociedade
não souber assumi-los, lhes dar condições; com condições todo o excepcional é
bom. Era isso que queria colocar e acho que o Projeto do nobre Ver. Castan tem
todos os méritos.
O Sr. Clóvis Brum: Não fui honrado
com um aparte.
O SR. HERIBERTO BACK: Lamento, até
pela nossa velha amizade, mas precisava fazer o pronunciamento, e teremos
outras oportunidades, mas eu precisava corrigir uma injustiça que havia feito
com os excepcionais desta Cidade, deste País. Muito obrigado.
(Não revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Adroaldo Corrêa): Com a palavra,
o Ver. Artur Zanella.
O SR. ARTUR ZANELLA: Sr. Presidente,
Srs. Vereadores, apenas para defender esta Emenda colocada que mantém os
artigos da Lei n° 4.454, mas é que o Ver. Back negou o aparte ao Ver. Clóvis
Brum, Líder do PMDB, então, se V. Exª quiser usar a palavra, cedo-a a V. Exª.
O Sr. Clóvis Brum: Eu agradeço
muito o gesto democrático de V. Exª, cavalheiresco, amável e talvez em nome de
uma velha amizade o Ver. Heriberto Back negou-se a esta oportunidade. Apenas
para dizer que é verdade, nobre Vereador, que um dia na nossa tradicional
Faculdade de Direito da Universidade Federal estivemos na sua academia de
oratória. Mas a bem da verdade há muito aprendi, fui aluno, por assim dizer, do
Ver. Heriberto Back. E isto também tem que ser dito nos Anais. E mais do que
isto. Eu lembro, Ver. Artur Zanella, o Ver. Heriberto Back, então meu colega
acadêmico lutando pelos colegas menos afortunados, na Faculdade, e depois pelos
pobres nas vilas na sua luta comunitária. Eu não vejo porque, nesta tarde, o
Ver. Heriberto Back defende o paternalismo, a oficialização do favor e não a
consagração de uma lei de direito dos carentes e excepcionais.
O SR. ARTUR ZANELLA: O Ver. Back, no
dizer de V. Exª, talvez não seja mais aquele. Como o Ver. Flávio Koutzii não é.
Eu achei que o Ver. Koutzii iria apresentar uma Emenda ampliando os direitos. O
Vereador diminuiu. Eu me lembro, um dos Vereadores mais antigos, o Ver. Elói deve-se
lembrar, quando vinha qualquer projeto a esta Casa a Bancada aqui do meio, Ver.
Antonio Hohlfeldt, Caio Lustosa, Jussara Cony, Flávio Koutzii eram os primeiros
a ampliar, pedir. Na verdade uma vez eu mandei para eles um desses que eu citei
para colaboração com determinada pessoa que tinha problemas e foi negado
dizendo que não queria atrasar a revolução. Que a doação atrasaria a revolução.
E talvez atrase. Mas é com tristeza que eu vejo os meninos, as meninas do MAPA,
a Dona Judith Dutra, os meninos da FEBEM, da Dona Eunice, que infelizmente não
se elegeu Vereadora pelo PMDB, sendo perseguidos pelo Ver. Flávio Koutzii,
velho colega de faculdade, lutador pelos pobres e oprimidos, assume o governo e
seis meses depois já é contra crianças, contra excepcionais, contra FEBEM,
contra MAPA, contra tudo, mas espero que como um voto, o voto sim consagra uma
posição e, às vezes, a retirada de uma Emenda consagra uma Bancada, uma
Liderança, tenho certeza que ao final nós não tenhamos que ver essa figura
triste, de ver uma Bancada inteira, que se elegeu em cima de dificuldades do
povo, votando contra os jovens e as crianças.
O Sr. Heriberto Back: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Vereador, eu não sei se V. Exª teve a oportunidade de ter lido
algum boletim da minha plataforma e a minha plataforma foi feita exatamente em
cima do contrário: criar mecanismo contra a exploração política da miséria e
foi em cima disto que se fez toda a campanha do PT. Ao contrário, nós não
fizemos nenhuma promessa de assistência a ninguém, nós tivemos o compromisso de
retificação da justiça implantada neste País, foi em cima disto que fizemos a
nossa campanha e não em cima da exploração política e da miséria que ao longo
destes anos se consagrou.
O SR. ARTUR ZANELLA: Eu não creio
que o Projeto do Ver. Castan seja uma exploração política da miséria. O Ver.
Castan está propondo ampliar uma lei já existente, um convênio já existente
consagrado em Lei e não vejo exploração política.
Infelizmente não li sua plataforma eleitoral, vai
trazer uma cópia provavelmente. Inclusive eu vi que o PT há poucos dias, Ver.
Dilamar, tinha uma assembléia para discutir e melhorar o programa do Governo
Olívio Dutra que por acaso não está pronto ainda o programa. Mas tenho a
impressão, Srs. Vereadores, que esta é uma desculpa muito tranqüila, já que não
se consegue resolver todos os problemas, não vamos dar nada. Não é assim Ver. Heriberto Back. Todos nós queremos uma sociedade
mais justa, qualitativamente bem proporcionada, mas até lá, isso dizia Rui
Barbosa: “temos que tratar de forma desigual os desiguais”. Eu vejo em uma
vila, como a Vila Farrapos, o Ver. Luiz Machado deve saber, a quantidade de
crianças excepcionais que ao lado tem aquela pequena escolinha, Casinha da
Criança, e que tem que vir ao centro. Vem nas kombis da polícia, porque não tem
dinheiro para pagar Ver. Back. Têm pessoas assim, Ver. Back, que não podem
pagar sua passagem. Têm pessoas. Talvez V. Exª não conheça tantas, mas elas
existem. Existem pessoas pobres que estão com problemas. Acho que se nós não
pudermos dar tudo para elas, que acho que é isso que nós queremos, ao menos
vamos dar um pouco, que é essa passagem. Inclusive ouvi alguém dizer que
poderiam passar por baixo da roleta. Ora, têm pessoas que tem problemas físicos
tão grande que não conseguem até passar pela roleta. Então, só vim defender
esta Emenda para manter os artigos da Lei n° 4.454, porque no Projeto de Lei do
Ver. Castan ele fala nas crianças inscritas na APAE, mas lembrou-me a Verª
Bernadete Vidal que tem muitas pessoas cegas, com outras deficiências físicas
que não são associadas à APAE e que aí perderiam esses benefícios. E é por
isso, então, que se pretende manter essa legislação que fala genericamente em
excepcionais. Acho que nós teremos uma aprovação praticamente unânime desta Lei
e espero, de todo o coração, que o Ver. Flávio Koutzii não deixe registrada na
sua ficha parlamentar uma Emenda tão lamentável como essa. É lamentável, Ver.
Flávio Koutzii, e isso será cobrado de V. Exª . No futuro alguém vai cobrar e
dizer: mas era aquele que era contra os meninos e meninas lá no MAPA e eu,
sinceramente, não gostaria que V. Exª levasse na sua biografia uma Emenda tão
ruim, tão lamentável e desumana como essa. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Com a palavra, para discutir, o Ver.
Vieira da Cunha.
O SR. VIEIRA DA CUNHA: Sr. Presidente, Srs. Vereadores, até
agora só ouvi manifestação contrária, em parte, ao Projeto do Ver. Nelson
Castan, da Bancada do Governo e do Ver. João Dib que, se não me engano, acenou
afirmativamente quando se fazia aqui a defesa das Emendas do Líder do PT.
O Sr. João Dib: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Nobre Vereador, eu sou daqueles que pensam que os problemas sociais
não se resolvem com esmolas e no momento em que nós tratarmos com profundidade
os problemas sociais, eles serão reduzidos, à semelhança do que acontece em
outros países que conheço. Então, sou contrário a uma doação que se pretende
fazendo uma série de programas, pois estaríamos dando esmolas com o dinheiro
dos outros. Muito obrigado.
O SR. VIEIRA DA CUNHA: Sou grato a V.
Exª pelo aparte que esclarece a sua posição. Quero dizer que toda argumentação
do PT em defesa das Emendas apresentadas pelo Ver. Flávio Koutzii que, na prática,
concede a isenção apenas a excepcionais e a retira em relação aos menores
carentes foi defendida, aqui, com uma fundamentação muito clara e o núcleo da
fundamentação é o seguinte: em relação aos excepcionais, o Projeto se justifica
porque, infelizmente, a situação do excepcional é permanente ou duradoura. Em
relação às crianças carentes não se justificaria colocar a isenção legal porque
a da criança carente seria uma situação provisória ou transitória, contra a
qual devemos todos lutar. Com o fundamento nós concordamos. É uma situação
contra a qual devemos lutar. Agora, se esquecem os Vereadores governistas e, se
me permite, também o Ver. Dib que a lei não é eterna e lei surge, exatamente,
para regular os fatos sociais concretos. Colocar em lei não significa fazer com
que a situação se transforme numa situação permanente. Toda e qualquer lei que
esteja em desacordo com os fatos sociais pode ser modificada ou até revogada.
Se amanhã ou depois a nossa luta, as lutas daqueles que, como eu, querem uma
sociedade diferente em que não tenhamos vergonha de viver num País que tem a
sétima ou oitava economia, enquanto milhões e milhões de irmãos nossos morrem,
diariamente, pela fome, pela miséria, enquanto não chegarmos a esse estágio,
Ver. Heriberto Back, teremos, sim, que ter leis como esta que, se não resolvem
- e não resolvem - pelo menos amenizam a situação desses nossos irmãos. Colocar
essa intenção no texto legal não significa, de maneira nenhuma, se perpetuar
essa condição. Que bom o dia que não tivermos companheiros nossos, irmãos
nossos, crianças nessa situação. Quando esse dia chegar, essa lei não terá mais
sentido, tornar-se-á inaplicável por falta, até, de objeto. Mas parece-me, Ver.
Heriberto Back, com todo o respeito que V. Exª me merece, que o núcleo da
justificativa, da posição da Bancada do Governo é muito pobre, não tem maior
consistência.
O Sr. Heriberto Back: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Ver. Vieira da Cunha, acho que a linha de raciocínio de V. Exª faz
sentido, podemos argumentar pelos dois lados. Acho que os dois lados têm
lógica, nenhuma das duas posições podem ser chamadas de incoerentes. A minha
intenção ao colocar essa linha de raciocínio é mais de educação política e de
reação contra isso que está se institucionalizando no País, ou seja, a miséria.
Faço isso no sentido de organizar politicamente nossa consciência, num rumo de
rebeldia contra essa situação. Creio que do ponto de vista da idéia política,
da transformação, seria mais conveniente a nossa linha de raciocínio.
O SR. VIEIRA DA CUNHA: V. Exª tem
razão, Vereador, mas enquanto não chegamos a esta nova sociedade, enquanto
tivermos que conviver com crianças na mais absoluta miséria temos que encontrar
formas ao menos de amenizar esse sofrimento, sem que com isso estejamos
assumindo uma posição paternalista.
O Sr. Heriberto Back: O Governador
Brizola, pelo qual V. Exª sabe tenho um profundo respeito, é dele a frase:
“apenas acabando neste País com a vergonha da sonegação fiscal poderemos
colocar todas as crianças deste País em escolas tipo CIEPES”.
Então, acho que temos que trabalhar se temos uma
solução tão perto, além disso se pudermos fazer uma reforma agrária, além do
controle da sonegação de impostos, se pudermos expulsar essa exploração
imperialista deste País, no próximo ano com um Presidente decente, por que
fazer uma lei, se estamos tão próximos de podermos ter uma solução de
profundidade?
O SR. VIEIRA DA CUNHA: Ver. Heriberto
Back, que bom se tivéssemos esta certeza, ocorre que só depois da posse do novo
Presidente, que esperamos seja alguém que tenha esta sensibilidade - nós
estamos no final de junho e o próximo Presidente toma posse somente em março de
1990 - até que tenha condições de ensejar um programa, em nível nacional,
supondo que seja o Brizola o eleito, supondo que tenha condições de dar
assistência a milhões de crianças em todo o País, já teriam decorridos alguns
anos porque perderam a oportunidade - e vejam que estamos tratando de um
assunto específico que é a questão do transporte coletivo, da gratuidade da
tarifa.
Eu não vejo como alguém que se posiciona
favoravelmente a este Projeto esteja impedindo a organização popular, no
sentido de conquistar uma nova sociedade. Não vejo como relacionar uma situação
com a outra. Não se está tentando oficializar a miséria, pelo contrário,
estamos tentando amenizar uma determinada situação com um Projeto de Lei até
que tenhamos condições de chegar a este estágio pelo qual V. Exª sabe que luto
tanto quanto V. Exª.
O Sr. Vicente Dutra: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Vereador, o Projeto tem um profundo sentido social e humano porque
vamos votar um Projeto para que o menor carente e o excepcional não sofram mais
o constrangimento que sofrem ao ingressar num ônibus, sem recursos, e ter que passar
por baixo da roleta, por exemplo, ou o pai ter que pedir ao motorista para que
o filho possa entrar pela frente. Também vamos evitar o constrangimento, aquela
constatação de crianças, jovens que caminham do Centro até bairros afastados,
vilas da periferia, porque não tem dinheiro e ficam envergonhados de estar
mendigando uma passagem no ônibus. Quantas e quantas crianças, até de madrugada
estão andando, vem do serviço, são engraxates, e assim por diante. Vamos evitar
este constrangimento, vamos doar um pouco do nosso sangue, nós da sociedade que
temos condições para minorar o sofrimento e até permitir aquele princípio
constitucional do ir e vir. Eles não têm como se deslocar, não tem dinheiro,
que usufruam este princípio da cidadania que é o direito de ir e vir onde bem
entender.
O Sr. Artur Zanella: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Ver. Vieira da Cunha, nunca vi o programa do PDT, mas vi uma vez
uma palestra do Dr. Brizola e está dizendo exatamente o contrário do que está
dizendo o Ver. Heriberto Back, que enquanto não se chegasse a isso deveriam
fazer algumas ações paliativas, e dizia ele que no programa do PDT que tinha lá
oferecimento de que as crianças deveriam tomar um copo de leite por dia...
O SR. VIEIRA DA CUNHA: Um litro de leite
por dia, e antes deste programa do leite da Nova República. O programa do PDT é
de 1979.
O Sr. Artur Zanella: Já que ninguém
defendeu o Dr. Brizola, e daqui há pouco é capaz de ser citado como contrário
às passagens para excepcionais, crianças e outros. Nunca vi o Dr. Brizola dizer
que era contra este tipo de projeto.
O SR. VIEIRA DA CUNHA: Nem o Ver.
Heriberto Back afirmou isto. Encerro dizendo que o núcleo da sustentação do
discurso da Bancada do Governo para defender as suas Emendas é pobre de conteúdo
na medida em que uma lei se preocupa em regular um fato social concreto. E o
fato é que temos milhares de crianças carentes em Porto Alegre que muito vão se
beneficiar da iniciativa louvável do Ver. Nelson Castan, que conta com o nosso
voto. Sou grato.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Inscrito para
discussão o Ver. Luiz Braz, que está com a palavra.
O SR. LUIZ BRAZ: Sr. Presidente,
Srs. Vereadores, estive na eminência de votar contrariamente a este Projeto de
Lei. Manifestei esta minha intenção para aqueles que eram interessados,
diretamente, nos efeitos deste Projeto. E a minha atitude estava presa ao fato
de que, se por um lado o Projeto traz vantagens e justiça para os excepcionais,
para os menores carentes, para uma camada necessitada da população, por outro
lado cauda um prejuízo no que concerne à tarifa do transporte coletivo de Porto
Alegre.
Tenho
um pensamento, Ver. Clóvis Brum, de que quem deve pagar por estas isenções não
é o trabalhador. Tenho um pensamento de que qualquer tipo de isenção deve
onerar a sociedade como um todo e, principalmente, as camadas mais favorecidas
da população. E todo o projeto que trata de isenção, como é o caso da meia
passagem para os estudantes onera, exatamente, aquela camada mais sofrida da
população que é a camada dos trabalhadores, às vezes é aquele que está ganhando
salário-mínimo que é obrigado a pagar pela isenção. É por esse motivo que
estive, praticamente, na iminência de votar contrariamente ao Projeto
apresentado pelo Ver. Nelson Castan. Esteve em meu gabinete o pessoal da FEBEM
e amigos meus da APAE, e pude ver que existe um convênio assinado por todos os
setores interessados no assunto, pela ATP, Prefeitura Municipal, FEBEM, pela
APAE, por todos os setores envolvidos no assunto, e o Projeto do Ver. Nelson
Castan não é que vá repetir, exatamente, o que existe no convênio, ele vai
configurar em lei esta situação que já existe só que com um perigo, é o perigo
da regulamentação do Projeto. Na regulamentação do Projeto o texto diz que deve
ser em trinta dias, o Executivo Municipal pode colocar na regulamentação
algumas limitações que no convênio não estão previstas. Digo, por exemplo, que
fica a cargo da Secretaria Municipal dos Transportes a elaboração das
carteirinhas, ou pode delegar para as próprias entidades sua confecção. O
Executivo pode se tornar moroso na confecção destas carteiras de modo que o
Projeto não possa ser implementado nem neste ano. Pesando os dois lados...
O Sr. Clóvis Brum: Não posso
concordar com isso, não é possível.
O SR. LUIZ BRAZ: Peço a V. Exª
que se comporte, Vereador. Pesando os dois lados. Eu não forneci aparte ao Ver.
Clóvis Brum, pediria que ele se acomodasse e não se manifestasse no momento.
Pesando os dois lados. Se é a Questão de Ordem tudo bem, mas sua manifestação
está atrapalhando, é inoportuna. Peço que o meu tempo seja descontado. Não é
aparte que estou fornecendo ao Ver. Clóvis Brum.
O SR. PRESIDENTE: V. Exª terá
cinco minutos, após a Questão de Ordem do Ver. Clóvis Brum.
O SR. CLÓVIS BRUM (Questão de Ordem): Quero até me
julgar uma pessoa impertinente ao pronunciamento do Ver. Luiz Braz, mas eu
intentava um aparte e estava ligado o microfone e aqui me reportando ao Ver.
Líder do PT, dizia a ele que não é possível e o Ver. Luiz Braz entendeu que
estava fazendo aparte. Estou inscrito em aparte. Quem não está se portando,
Ver. Luiz Braz, é o PT, não sou eu.
O SR. PRESIDENTE: Ver. Luiz Braz,
V. Exª terá os seus cinco minutos em complementação. A Mesa não entende como
Questão de Ordem a intervenção do Ver. Clóvis Brum e sim como uma Explicação
Pessoal.
O SR. LUIZ BRAZ: Vou conceder,
mais tarde, o aparte a V. Exª, o que tenho certeza enriquecerá o meu
pronunciamento.
O que fez com que modificássemos nossa opinião a
respeito deste Projeto do Ver. Castan é que, se de um lado está o trabalhador
sendo onerado e como não existe um meio, pelo menos no momento, que possa fazer
com que a sociedade subsidie este tipo de benefício nós ficamos, Ver. João Dib,
exatamente numa posição em que, se não votarmos este tipo de Projeto, se não
concordarmos com este tipo de atitude, se não concordarmos em que o trabalhador
subsidie o menor carente e o excepcionais, nós vamos deixar esta camada da
população numa situação realmente muito difícil. Então, nós temos que concordar
com um comportamento injusto, porque é injusto o trabalhador pagar para o
excepcional, para o menor carente, para quem quer que seja, é injusto que o
trabalhador o subsidie, porque o trabalhador precisa ser subsidiado, não pode
continuar subsidiando, nós temos que concordar com este tipo de injustiça para
que uma injustiça maior não seja cometida. A injustiça maior seria, exatamente,
aquela de nós deixarmos o menor carente e o excepcional sem a possibilidade de
se locomoverem livremente como determina a própria Constituição. E é exatamente
por este motivo que nós mudamos a nossa posição inicial de sermos contrários ao
Projeto do Ver. Nelson Castan e assumimos uma posição que nós sabemos que é
injusta, como é injusta a própria legislação que dá meia passagem ao estudante,
em detrimento de uma camada muito pobre da população, lei esta que esta Câmara
teria que rever, porque nós temos que fazer o mínimo de justiça. E a minha
posição volta-se a favor do Projeto do Ver. Nelson Castan para que essa
injustiça maior não se verifique através da negativa da proposição que o
Vereador faz, muito embora ela esteja apenas configurando uma situação que já
existe de fato.
O Sr. Vieira da Cunha: V. Exª permite
um aparte? (Assentimento do orador.) Apenas porque este Vereador é autor de um
Projeto que concede isenção para o estudante de 1° grau, por isso não gosto
quando dizem que qualquer isenção cai nas costas do trabalhador. Primeiro,
porque a partir da instituição do vale-transporte, o trabalhador paga um fixo
para se transportar, 6% do seu salário, e todo trabalhador, V. Exa
sabe, é uma lei universal, tem direito ao vale-transporte. Segundo, o estudante
que usa o transporte coletivo é filho do trabalhador, porque o estudante filho
da classe média, ou alta, vai de ônibus escolar, ou a própria família leva e
traz. Portanto, não posso aceitar o argumento de que toda e qualquer isenção
cai nas costas do trabalhador, depende da isenção. Quando a isenção é justa,
como no caso desta proposta pelo Castan, como no caso dos estudantes de 1º Grau,
eu não posso aceitar o raciocínio de V. Exa pelas razões que acabei
de expor.
O SR. LUIZ BRAZ: Apenas
respondendo a V. Exa devo dizer que, muitas vezes, peguei o ônibus
Ipiranga-PUC, porque estudava lá, - eu pediria que o Ver. Edi Morelli pudesse
me ceder o seu tempo.
O SR. PRESIDENTE: A Mesa informa
que V. Exa tem três minutos para concluir, mas a Mesa consulta os
demais Vereadores inscritos, Flávio Koutzii e João Dib, se concordam com a
cedência de tempo. (Assentimento dos Vereadores.)
O SR. LUIZ BRAZ: Quero
agradecer ao meu companheiro de Bancada.
O SR. ARTUR ZANELLA (Questão de Ordem): Só para se
manter, regimentalmente, os Vereadores não são consultados sobre a cedência do
tempo. Os Vereadores são consultados se permitem que ele fale primeiro, não
quanto à cedência.
O SR. PRESIDENTE: Foi a intenção
da Mesa. Obrigado pela correção.
O SR. LUIZ BRAZ: Eu quero
agradecer ao meu companheiro de Bancada, Ver. Edi Morelli, e aos Vereadores
Flávio Koutzii e João Dib que permitem que eu possa terminar a minha oração,
desta tribuna.
Respondendo ao Ver. Vieira da Cunha, no aparte que
ele me faz eu digo que, muitas vezes, eu estive no ônibus Ipiranga-PUC. Eu
posso comprovar que não é apenas o mais pobre que utiliza a passagem escolar.
Não é verdade isso! Nós utilizamos a meia passagem quando éramos estudantes e
os estudantes da PUC continuam utilizando a meia passagem. Se V. Exa
vai isentá-la a uso de 1º Grau, com todo respeito, de repente alguém vai
isentar a torcida do colorado, do grêmio. Quem paga qualquer tipo de isenção é
o trabalhador e entra no cálculo da tarifa. Qualquer Vereador que conheça o
cálculo da tarifa sabe muito bem que qualquer tipo de isenção cai em cima do
trabalhador.
O Sr. Clóvis Brum: V. Exª permite um aparte? (Assentimento
do orador.) Nobre Vereador, eu não tenho dúvidas e eu entendo assim, que a
modificação ocorrida no voto de V. Exa foi fruto da audiência a sua
consciência diante dos reclamos dos menores carentes da FEBEM, do MAPA e dos
excepcionais. São tão fortes estes reclamos, nobre Vereador, são tão humanos e
profundamente sociais que eu até comecei a examinar e a estudar a possibilidade
de levar estes benefícios aos táxis-lotação, porque os táxis-lotação já têm uma
clientela um pouco mais privilegiada do que o ônibus. Por isso, eu tenho
certeza de que, se estes estudos objetivarem a apresentação de um Projeto por
este Vereador, contarei com o voto de V. Exa.
O SR. LUIZ BRAZ: O Ver. Vieira
da Cunha dizia que se eu sou contrário a estas isenções é porque eu quero
proteger o empresário do transporte coletivo. Eu quero dizer que quem conhece o
cálculo da tarifa sabe muito bem que quanto mais passageiros nós tivermos
pagando pela tarifa, menor ela será. Mas é o IPK, Vereador, é só V. Exa
pegar a lei e V. Exa vai ver que para chegarmos ao cálculo do índice
de passageiros por quilômetro nós vamos ter, exatamente, que contar quantos
passageiros o ônibus transporta por cada quilômetro e cada pessoa isenta estará
acarretando um pouco mais do valor para aqueles que têm que pagar. Mas isto é
normal, Vereador, eu não estou aqui querendo proteger nenhum empresário. Eu
estou defendendo, exatamente, a tarifa. O empresário não perde absolutamente
nada, Vereador, porque o empresário vai jogar em cima do preço da tarifa,
exatamente, as isenções.
O Sr. Vieira da Cunha: V. Exa conhece
a lei do vale-transporte, Ver. Luiz Braz?
O SR. LUIZ BRAZ: Se V. Exa
conhece a lei do vale-transporte, V. Exa sabe muito bem que o
vale-transporte que o trabalhador recebe não é suficiente para ele e para a sua
família, e a sua família também é carente, e a sua família precisa se
locomover. Então, o vale-transporte não resolve os problemas das pessoas que
não podem pagar tarifa no Brasil. Resolve, mal e mal, o problema do
trabalhador. Mas da família do trabalhador não.
O Sr. Vieira da Cunha: V. Exa permite
um aparte? (Assentimento do orador.) O estudante de 1º grau que eu quero
isentar é um componente da família deste trabalhador que tem vale-transporte.
O SR. LUIZ BRAZ: Mas quem vai
pagar é o trabalhador, Vereador.
O Sr. Vieira da Cunha: Mas ele tem o
vale-transporte, Ver. Luiz Braz.
O SR. LUIZ BRAZ: Sim, mas ele
tem para ele o vale-transporte.
O Sr. Vieira da Cunha: Sim, e para o
filho dele eu quero dar a gratuidade.
O SR. LUIZ BRAZ: Ver. Dilamar
Machado.
O Sr. Dilamar Machado: Ver. Braz, eu
confesso a V. Exª que passou a oportunidade, agradeço, até para ouvi-lo.
O SR. LUIZ BRAZ: É que
infelizmente estava fornecendo outros apartes.
O Sr. Dilamar Machado: Só para não
frustrar V. Exª eu faria um pequeno comentário em relação aos alunos da PUC. No
Brasil de hoje, o ensino privado, superior, longe de ser privilégio dos ricos é
desespero dos pobres. O aluno da PUC que vai de ônibus é porque não tem
automóvel nem moto, ele vai de ônibus porque é pobre, normalmente é um
comerciário, um bancário, é filho de um operário, que trabalha durante o dia e
de noite pega o ônibus para ir para a PUC.
O SR. LUIZ BRAZ: Ver. Dilamar
Machado, V. Exª sabe que nós temos no Brasil uma população extremamente pobre,
paupérrima. Agora, o que não faz justiça é que a camada mais pobre, a
paupérrima pague para a menos pobre. O que eu disse aqui na tribuna é que o
justo seria que encontrássemos subsídios em outras camadas da sociedade para
que estes que são pobres - e eu sei que são pessoas pobres - mas são mais ricas
do que aqueles que estão pagando tarifa na atualidade, é por isto que eu mudei
de pensamento em relação ao Projeto do Ver. Nelson castan, porque estes
excepcionais, estes menores carentes da FEBEM, eles estão na camada mais pobre,
mais paupérrima da população. Então, não pude pensar de outra maneira, não tive
como pensar de outra maneira, mas estive na iminência de votar contrariamente
ao Projeto do Ver. Castan, exatamente pelo fato de que quem vai pagar isto é o
trabalhador que anda de ônibus.
O Sr. Elói Guimarães: V. Exª permite
um aparte? (Assentimento do orador.) Não sei se bem entendi, mas me afigurou
que V. Exª estabeleceu uma relação ontológica entre o excepcional e o carente e
o estudante. Se assim for...
O SR. LUIZ BRAZ: Não, não
estabeleci.
O Sr. Elói Guimarães: Sim, porque V.
Exª elencou a questão da isenção e estabeleceu uma relação de igualdade.
O SR. LUIZ BRAZ: No que concerne
à tarifa sim. Não coloquei igualdade porque até disse que voto no Projeto do
Ver. Nelson Castan que isenta menores da FEBEM e excepcionais e sou contrário,
por exemplo, de dar meia passagem ao estudante para que o trabalhador tenha que
pagar. Então, não estou igualando, estou diferenciando, inclusive acho que
existe diferença, agora o que não podemos, Ver. Elói Guimarães é começarmos a
criar projetos e mais projetos sem verificarmos, exatamente, qual o reflexo que
isto vai causar na tarifa, porque algum reflexo causa na tarifa e se não é o
trabalhador que vai pagar, porque o trabalhador tem vale-transporte como bem
frisou o Ver. Vieira da Cunha, a família do trabalhador vai pagar...
O Sr. Omar Ferri: Está provado
que a passagem de ônibus nesta Capital é gratuita.
O SR. LUIZ BRAZ: Como nós hoje
não estamos discutindo os outros projetos de
isenção, nós estamos discutindo o projeto de isenção do Ver. Nelson Castan,
acho Vereador que V. Exª tem que acompanhar bem de perto como todos nós aqui
desta Casa, a regulamentação do Projeto, porque na regulamentação do Projeto, o
Executivo Municipal, de acordo com o texto que V. Exª fez, dá oportunidade para
que ele na implementação possa levar até um ano, porque para confeccionar
carteirinhas ele pode ou não delegar para as entidades a confecção dessas
carteirinhas, a SMT não sei quanto tempo levaria para confeccionar todas. E
neste caso, o Executivo poderia, a seu bel-prazer, dizer quando é que este
projeto poderia se tornar viável. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Inscrito para
discussão do Projeto, o Ver. Flávio Koutzii.
O SR. FLÁVIO KOUTZII: Sr. Presidente,
Srs. Vereadores, só queria, de forma efetivamente breve, reiterar uma posição
que é uma orientação nossa geral, que está sendo estabelecida ao longo dos
debates que vamos fazendo em outros parlamentos. Vale para nós nesta questão o
mesmo raciocínio, por exemplo, que se transformou numa orientação nacional de
todos os parlamentares do Partido dos Trabalhadores em relação às bolsas de
estudo. Nós tomamos como decisão que nenhum parlamentar deve utilizar-se das
facilidades, bolsas completas ou parciais às quais temos direito, de forma
diferente, em distintos parlamentos, porque justamente entendemos que este
benefício que o parlamentar tem normalmente entra numa brecha muito precisa
entre a miséria da população e a autoridade do parlamentar e o espaço que ele
ocupa, a possibilidade de conceder favores que sejam com a melhor das boas
intenções, que sejam para as pessoas que tenham mais necessidade, mas o
fenômeno e a possibilidade de produzir isso, pelo parlamentar, é a marca de uma
dinâmica que a política neste País tomou, na qual, evidentemente, se
estabeleceu uma série de aspirinas sociais e que tem o duplo sentido, de uma
forma muito evidente, de potencializar a intervenção do parlamentar, o seu
crédito junto àqueles que, de uma forma ou de outra, o procuram na busca de
migalhas de solução, quando os grandes problemas nos são difíceis de resolver
ou os limites, no caso dos Vereadores, do espaço sob o qual intervimos, são
limitados pela lei e pela autonomia do Município. É a mesma concepção. Então, é
claro que o raciocínio oposto seria dizer numa situação de miséria, numa
situação - e aí nós partilhamos do que foi dito - onde não podemos apresentar
as soluções finais, completas e radicais que desejamos, façamos a justiça que é
possível, da maneira que é possível. Então, esse é um debate que não quero,
aqui, pois essa questão foi largamente abordada por vários Vereadores. Só quero
dizer que essa é uma concepção que nós temos e é possível até que algumas vezes
não a tenhamos seguido, mas o que vamos fazendo, pouco a pouco, é estabelecer
uma coerência com esse entendimento e com essa avaliação.
O Sr. Vieira da Cunha: V. Exa permite
um aparte? (Assentimento do orador.) Apenas quero dizer a V. Exª, com todo
respeito, que me pareceu equivocada essa posição da Bancada do PT, porque o uso
devido ou indevido dessa verba depende de quem a tem à disposição e o destino
que lhe dá. Eu tenho certeza de que se V. Exª tivesse tido a oportunidade de
distribuir essa verba, ela teria sido socialmente, justamente distribuída. Veja
o meu caso, por exemplo, uma parte substancial dessa verba que eu utilizei foi
canalizada à UAMPA e me parece que a Bancada do PT não poderia posicionar-se
contrariamente à doação de uma verba que vai fortalecer o movimento popular e
comunitário. Então, me parece contraditória essa posição que o Partido de V.
Exª tomou na medida em que abriu mão dessa verba. Onde estará essa verba, será
que ela estará sendo tão bem utilizada quanto seria pelos Vereadores do PT?
O SR. FLÁVIO KOUTZII: Certamente,
não!
O Sr. Elói Guimarães: V. Exa permite
um aparte? (Assentimento do orador.) Não entende V. Exª que a questão é de
critério, porque vivemos numa sociedade de classes. Então, V. Exª se não
estabelecer critérios, defere ao Executivo. Em sendo uma sociedade de classes
parece-me que o princípio de ajuda é válido, enquanto sociedade de classes.
O SR. FLÁVIO KOUTZII: Achei
importante, apenas, frisar e sublinhar a nossa posição de fundo, a mais geral,
a que determinou uma parte do nosso enfoque. Acho que os argumentos
apresentados atravessaram, inclusive, os nossos próprios debates internos, mas
o nosso entendimento prioriza um outro centro da questão. Achamos que isso é
uma deformação, com uma lógica interna, e queremos apartar-nos desse tipo de
entendimento. Então, não é o único argumento, é uma oportunidade para
explicá-lo aos colegas Vereadores de outras Bancadas, é um argumento importante
o fato reiterado, também, aqui, de que isso tem um custo - foi colocado,
inclusive por V. Exª - um custo sobre o sistema e achamos que é algo que
devemos ter em conta a forma como se reparte esse tipo de efeito. Em geral a
nossa orientação, para os projetos que virão sobre o mesmo tema, será a mesma.
Contemplaremos alguns casos excepcionais, como o presente, votando contra em
outras circunstâncias. Para terminar, gostaria de dizer que já me considero
comprometido, na esteira da intervenção do Ver. Back, a propor, no futuro
festival de Gramado, um “kikito de ouro” para o melhor Vereador-coadjuvante,
grande ator e que votaremos no Ver. Clóvis Brum. A segunda questão, a qual
gostaria de deixar clara sobre o que ouvi do Ver. Brum e do Ver. Zanella é que,
no fundo, no fundo, não sou tão mau assim! Muito obrigado.
(Revisto
pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: A palavra, com
o Ver. João Dib.
O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente,
Srs. Vereadores, vou fazer uma incursão no campo do futurismo. Nós debatemos
por quase três horas este Projeto de Lei. Ao início da discussão eu já tinha
certeza que todos os Vereadores aprovariam o Projeto, que ele seria
unanimemente aprovado e a minha incursão no futurismo se deve ao fato de que
acredito que o resultado será a favor, menos com o voto do Ver. João Dib, que
irá votar contra o Projeto. Não há nada de novo porque ontem votei sozinho contra
um Projeto de Fiscal Comunitário; na semana passada, quase que sozinho, mas eu
disse num aparte ao Ver. Vieira da Cunha que problemas sociais não se resolvem
com esmolas. É o que tem sido feito neste País. Vejam a situação difícil que
vou ter, agora, em tentar demonstrar uma coisa que a minha consciência me
manda, não tenho talvez os discursos de oratórias capazes de sintetizar o que
eu penso, o que meu coração sente e o que meu cérebro me determina, não tenho
condições mas quero afirmar que esmola não resolve problema social, este País
vive mal, este País, que tem a maior carga tributária do mundo, cada um olha o
contracheque que recebeu, hoje, e já calcula quanto vai descontar de imposto de
renda, quanto de importo predial e outros impostos, só para se ter uma idéia do
quanto pagamos de imposto. Quanto ao salário mínimo que foi mantido em Cz$
81,40, porque o Presidente da República assinou como uma esmola para o mês de
julho ao invés de ser pago Cz$ 120,00, ou seja, Cz$ 90,00 mais Cz$ 30,00, ficou
em Cz$ 112,00 mais Cz$ 38,00 em julho.
Então, nós vivemos mal porque não são reconhecidos
os nossos direitos, nós temos direito à saúde, nós temos direito ao ensino, nós
temos direito à condução, mas não nos dão salário... Agora, nos dão umas
esmolinhas e nós estamos três horas discutindo porque iríamos dar uma esmola. E
aqueles que recebem a esmola, momentaneamente são silenciados, pois receberam
uma vantagenzinha qualquer, não importa a que título recebem, então, ficam
contentes. Mas, no momento em que me deram esta esmola tiram de mim uma outra
coisa.
Fui hospitalizado na Inglaterra, fiquei dois meses
no hospital, pagava até os custos do hospital eram baixíssimos em relação aos
nossos aqui. Mas, vi os ingleses receberem atendimento médico igual ao que
recebi, dos mesmos médicos, assegurados nas suas leis sociais. Precisei de
cadeira de rodas, eles também receberam, e eu paguei, pois era estrangeiro, se
morasse lá não pagava. Havia o seguro social, seguro saúde, todas as coisas. Vi
na Inglaterra o Governo fazer as casas e alugar para os trabalhadores para que
pudessem morar.
Então, nós temos a maior carga tributária do mundo e
precisamos dar esmolas, precisamos que o nosso excepcional, os nossos
deficientes recebam a esmola. Não é outra coisa. Eles têm direito. Mas estamos
fazendo um favorzinho para eles. Então, enquanto ficamos três horas discutindo
isto, nós estamos deixando de buscar as soluções definitivas, estamos deixando
de exigir do governo as medidas que devem ser tomadas. E foi assim que se votou
uma Constituição neste País. E ao invés de se estudarem os problemas do povo
brasileiro, eles ficaram lá tramando rádios, televisões, concessões, para fazer
uma Constituição de centenas de artigos e ainda falta fazer 200 leis
complementares para que ela seja realmente uma lei maior. Uma lei maior que é
muito menor.
Lá na Inglaterra nunca escreveram a Constituição.
Nos Estados Unidos fizeram há 200 anos e é a mesma. Mas lá se cumpre, aqui se
dá de vez em quando uma esmolinha. E o brasileiro fica quietinho, porque
recebeu uma esmolinha. Quando passa alguém e tolamente não emprega alguém, esse
não é nem citado, é um tolo, é um bobo, não usou o dinheiro público, não fez
empreguismo, é um bobo, não aproveitou, porque dar o dinheiro do povo é muito
fácil. Quero ver quem é que bota a mão no bolso e dá do seu dinheiro para
alguém, para o seu semelhante na rua, aí, então, até acho que a esmola vale,
mas essa esmola que se dá com o dinheiro público se tira de alguém, e quando se
tira de alguém, às vezes se tira muito mais porque então tem que se favorecer
mais, mais e mais. Então, acho que é chegada a hora de raciocinar, colocar a
mão na consciência e dizer que temos outras responsabilidades, temos outros
deveres, temos que ter dignidade nas nossas colocações, temos que ter
consciência para dizer não, ainda que seja impopular e vou votar contrariamente
e até no início estava pensando e até apoiei a Emenda do Ver. Koutzii por uma
razão muito simples: o excepcional rico é escondido, ele é transportado em
automóvel, tem clínicas particulares que vocês nem conhecem, quem conhece bem a
Cidade já deve ter encontrado algumas, já deve ter visitado algumas ou então o
especialista vai na casa do excepcional que é escondido. Mas quando o pai pobre
tem que levar o seu filho de ônibus, ele está dando uma enorme demonstração de
amor, o pai ou a mãe, de orgulho até daquele filho excepcional, difícil. E, por
isso, achava a Emenda muito razoável, muito inteligente, muito boa porque esta
não precisa de atestado de ninguém, não precisa de atestado da APAE, o atestado
é a própria necessidade do pai. Mas, até isso vou votar contrariamente.
O Sr. Vicente Dutra: V. Exa permite
um aparte? (Assentimento do orador.) Nobre Vereador, para demonstrar que o
nosso Partido é realmente um Partido democrático, vou me atrever a discordar de
V. Exª e até dizer a V. Exª que V. Exª fez do início do seu brilhante discurso,
que coloca uma posição respeitável, evidentemente, a apologia daquilo que está
sendo votado hoje. Quando V. Exª diz que na Inglaterra é dado todo o benefício
gratuitamente, é claro que alguém está pagando isso; quem está pagando isso é a
sociedade, porque o dinheiro não tira o dinheiro de algum lugar. É o que
estamos tentando fazer aqui, fazer com que a sociedade amenize uma situação que
não temos condição de resolver. Se fôssemos Deputados Federais, talvez
pudéssemos legislar de uma forma a atacar o problema na sua raiz, atacar a
guerra e não a doação de sangue que estamos tentando fazer. Estamos fazendo uma
doação de sangue, só isso.
O SR. JOÃO DIB: Sou grato a V.
Exª e pediria que lesse ali na mesa, ao seu lado tem um livro que recebi da
Inglaterra, um conselho que ele está dando. Mas na Inglaterra a enorme carga
tributária, que não é tão grande quanto a nossa, é bem dividida, é bem
administrada, administrem bem os impostos e não teremos necessidade. Então, as
pessoas têm as suas carteiras e têm os seus direitos, têm os seus direitos, não
são esmolas.
O Sr. Elói Guimarães: V. Exa permite
um aparte? (Assentimento do orador.) Concordo com V. Exª quando diz que temos
que reformular a sociedade, temos que reformular no sentido de acabar com a
assistência mas, então, vem o aparte: Qual é a alternativa que temos já e
agora.
O SR. JOÃO DIB: Já e agora,
nós vamos nos unir, vamos lutar, vamos buscar a solução. E a solução não será
dar esmolas para resolver problemas de caráter social. Nós precisamos nos unir,
nós precisamos lutar por coisas muito maiores, não para que se pague um salário
de oitenta e um e quarenta centavos (sic).
O Sr. Elói Guimarães: V. Exa permite
um aparte? (Assentimento do orador.) Com isto nós concordamos, mas agora, já,
para a espécie que nós estamos discutindo.
O SR. JOÃO DIB: Olha, que se
cause um trauma social enorme. No trauma social maior, vai aparecer a grande
diferença e a grande solução. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Valdir Fraga): Encerrada a
discussão. Nós vamos suspender por alguns minutos, mas nós precisamos votar os
Pareceres das Emendas. Eu convido o Ver. Elói Guimarães, como Presidente da
Comissão de Justiça, para assumir os trabalhos desta votação e, logo a seguir,
voltaremos para colocar a palavra à disposição para encaminhamentos. Estão
suspensos os trabalhos.
(Os
trabalhos são suspensos às 18h04min.)
O SR. PRESIDENTE (às 18h17min): Estão reabertos
os trabalhos da presente Sessão.
Encaminha pelo PCB, o Ver. Lauro Hagemann.
O SR. LAURO HAGEMANN: Sr. Presidente
e Srs. Vereadores, abstive-me de discutir o Projeto do Ver. Nelson Castan
porque a Casa já o discutiu exaustivamente. Quero dizer com toda a clareza que
vou votar a favor, mas quero alertar a Casa e mais do que alertá-la,
adverti-la: nenhum Vereador que aprovar este Projeto, inclusive eu, vai ter
mais condições morais de discutir tarifa de transporte coletivo nesta Casa. “Do
couro saem as correias”, e todas as isenções, as que já foram propostas, as que
estão em vigor, e as que ainda estão sendo propostas vão ter a oneração dos
usuários do transporte coletivo. Isto é indiscutível.
Então, Srs. Vereadores, vamos aprovar o Projeto
dando isenção de passagens aos menores carentes, aos excepcionais, como hoje já
estão sendo dadas aos brigadianos, aos carteiros e aos idosos. Eu só me
surpreendo pela falta de uma Emenda que deixou de surgir neste Plenário
transformando o transporte coletivo de Porto Alegre absolutamente gratuito.
Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Encaminha pelo
PDT o Ver. Nelson castan. V. Exª tem cinco minutos.
O SR. NELSON CASTAN: Sr. Presidente
e Srs. Vereadores, eu entendo que esta Casa na iminência de demonstrar à
opinião pública de Porto Alegre o valor que têm os Srs. Vereadores, a
preocupação social com os problemas da nossa Cidade, a sensibilidade para com
um grupo desta mesma sociedade que clama por justiça, não clama por esmola, clama
por justiça, clama por condições que venham a melhorar a sua condição de vida,
a viabilizar a incorporação cada vez maior destes segmentos de maneira a
torná-los, cada vez mais úteis e cada vez mais incorporados a esta sociedade
que, de uma forma ou de outra os rejeita, os marginaliza. Nós tivemos já na
Constituição Nova, promulgada no ano passado, aspectos que fizeram evoluir a
legislação social do nosso País. Por coerência, eu entendo que esta Casa está
prestes a seguir este exemplo, os bons exemplos incluídos na nossa Carta Magna.
Por coerência, eu já estava engajado nesta luta desde 1986, quando fui um dos
signatários do Convênio que ora está prestes a ser substituído por uma
legislação duradoura e estável que venha tranqüilizar os segmentos alvos deste
Projeto de Lei.
Eu entendo que as instituições que passarão a ser
agente deste benefício social, a APAE, a FEBEM e o MAPA, são instituições
dignas, cujas lideranças são o maior exemplo de entrega social, de participação
na comunidade, de esforço para que os seus liderados tenham, cada vez mais,
melhores condições de vida. Nada melhor, então, do que reconhecer o esforço
destas lideranças dando a estas instituições condições para administrar este
benefício social que eu acredito que a Câmara de Vereadores de Porto Alegre irá
aprovar nos próximos instantes.
Eu entendo que a aprovação deste Projeto significa
mais um passo no resgate da dignidade destes grupos, mais um passo no resgate
da dignidade que faz com que muitas vezes estes menores carentes ou estes
deficientes tenham que usar métodos que lhes são humilhantes para alcançar o
direito de ir e vir, muitas vezes uma condição indispensável, absolutamente
vital para que eles obtenham o acesso a tratamentos, a condições de melhora.
Eu queria fazer um apelo ao Partido dos
Trabalhadores, um apelo ao Ver. Dib um apelo ao Ver. Lauro para que mudem a sua
posição. Não se trata de qualquer esmola, não se trata de qualquer doação.
Trata-se desta Casa reconhecer uma condição sem a qual o resgate destas pessoas
é muito difícil. Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu já convido as Lideranças
de todos os Partidos desta Casa, as Lideranças das Entidades que há tanto tempo
buscam esta condição para seus filiados, para os seus vinculados, convido a
todos para que, após aprovado este Projeto de Lei, façamos uma visita ao Sr.
Prefeito Municipal para que, no menor prazo de tempo possível, esta lei seja
regulamentada, de acordo a facilitar ao máximo, de acordo a desburocratizar ao
máximo o acesso que esta Casa certamente dará aos beneficiários.
Por último, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, eu
fico sensibilizado - e certamente as Lideranças que há tanto tempo vêm
batalhando por este Projeto de Lei também se sentem sensibilizadas e
agradecidas - com as manifestações de inúmeros Vereadores que vieram a esta
tribuna manifestar a sua posição em apoio a este Projeto, que é meritório, sob
todos os pontos de vista. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. ADROALDO CORRÊA: Lembro à
Presidência que o tempo da Sessão, durante o pronunciamento do Ver. Clóvis
Brum, terá sido concluído e será necessária a prorrogação da Sessão.
O SR. PRESIDENTE: De acordo com a
orientação que recebemos, o prazo da Sessão expira às 18h36min. Então, dá tempo
ainda de o Vereador usar os seus cinco minutos e, após, prorrogaremos a Sessão.
Muito obrigado pela colaboração, Vereador.
Com a palavra, o Ver. Clóvis Brum.
O SR. CLÓVIS BRUM: Sr. Presidente,
Srs. Vereadores, nós não vamos ocupar os cinco minutos até porque não seria
necessário. Só queremos, com clareza, encaminhar o seguinte: nós votamos com o
Projeto, contra as Emendas n°s 01,02 e 03, Emendas de autoria do Partido dos
Trabalhadores. Quem diria! E votamos a favor das Emendas n°s 04 e 05; votamos a
favor do Projeto, contra as Emendas n°s 01,02 e 03 e a favor das Emendas n°s 04
e 05. Acreditamos que assim estaremos dando uma contribuição às crianças
carentes do MAPA que estavam desde cedo da tarde, pena que o Ver. Flávio
Koutzii não pôde observar, antes do início da reunião as crianças do MAPA já estavam
ali. E a Srª Diretora da FEBEM já esteve aqui na Casa visitando vários
Vereadores pedindo que votássemos a favor deste benefício social. Achamos que o
Ver. João Dib fecha com a proposta geral, me parece, dá a entender que está
fechado com o Projeto e contra as Emendas n°s 01,02 e 03 e a favor das Emendas
n°s 04 e 05. Aliás, a Emenda n° 04, por sinal, é de autoria de um liderado do
Ver. João Dib, Ver. Vicente Dutra, subscrita pelo Ver. Luiz Braz, gentilmente
subscrita pelo Ver. Luiz Braz que até me causou surpresa porque rigorosamente
eu esperava que o Líder do PDS tivesse subscrito. Mas eu sei que não foi
possível, porque o Ver. João Db, naquele momento, não se encontrava no Plenário
e o Ver. Luiz Braz gentilmente subscreveu. Mas, então, ficamos com os seguintes
encaminhamentos: favorável ao Projeto, contra as Emendas do PT que retiram este
benefício das crianças carentes. Porque há um detalhe, eu até estava encerrando
sem chamar a atenção dos Senhores para um fato muito sério. As Emendas do Ver.
Flávio Koutzii querem proibir que as crianças carentes da Cidade recebam o
benefício desta lei, porque se as Emendas do Vereador forem aprovadas, só ficam
os excepcionais gozando do benefício. Se estas Emendas forem rejeitadas, ficam
os excepcionais, seus acompanhantes e os menores carentes da FEBEM e do MAPA.
Então, a solução, me perdoe o PT, é a gente votar contra o PT, hoje, contra as
suas três Emendas e votar favorável às Emendas n°s 04 e 05, e mais, ao Projeto
do Ver. Castan. E só para chamar a atenção para que não se cometa uma injustiça
nesse atropelo votando a favor das Emendas do PT, que retiram do ônibus as
crianças carentes. O Ver. João Dib vem com uma sede enorme ao pote, vem dizer
que isso é favoritismo, isso é paternalismo, que não se pode fazer. Não, eu
deduzo. Estou deduzindo até de maneira maldosa. Mas poderia imaginar isso. Não
é favor, não é paternalismo, a isenção dos menores carentes é um débito social
nosso para com eles, e vou mais longe. Tem razão o Ver. João Dib, tem razão o
Ver. Luiz Braz, têm razão os Vereadores que alertam para o fato de que as
isenções aumentam o valor da tarifa. É verdade, porque a lei diz exatamente o
seguinte: O que é o IPK? É o número de passageiros transportados. E aí vem uma
palavra que eu estudo noite e dia para alterá-la: o número de passageiros
transportados - e aí vem a palavra chave - “deduzindo” os isentos e as meias
passagens, dividido pelo quilômetro percorrido. Quer dizer, só sabemos que
realmente deixa mais cara a passagem, mas no momento é o que nós podemos
oferecer, e vamos examinar com a Bancada do PT para, quem sabe, encontrar uma
outra solução. Mas, no momento, é aprovar o Projeto contra as Emendas n°s 01,02
e 03 e a favor das Emendas n°s 04 e 05. Muito
obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Encaminha pelo
PT o Ver. Heriberto Back.
O SR. HERIBERTO BACK: Sr. Presidente,
Srs. Vereadores, apenas para clarificar eu volto a esta tribuna para
encaminhar, para ratificar uma posição. O nosso voto para a isenção da passagem
para o excepcional não é porque o excepcional precisa, porque está numa
situação difícil. Não! É um investimento da sociedade, apenas para deixar isso
bem claro. Não é porque eles são alguns coitados, que tiveram a infelicidade,
não. A sociedade, fazendo esse investimento, eles vão render o dobro daquilo do
qual são suprimidos por sua deficiência eventual.
Finalmente, na questão dos menores, dirijo-me
particularmente à Bancada do PDT para dizer que a nossa argumentação não foi
pobre. Do ponto de vista informal têm razão os Vereadores Vieira da Cunha e
Clóvis Brum. Uma lei pode ser revogada a qualquer momento, mas isso significa
institucionalizar, trabalhar pelo lado da lei, quando nós temos que trabalhar
pelo lado da solução, para encaminhar novas soluções principalmente quando o
País - e nós levamos fé nisso - com uma candidatura que possa vencer essa
eleição, com a organização do povo brasileiro de rebeldia e de transformação,
possa transformar este País e não haver mais carentes e que dentro dos próximos
anos isso possa ser encaminhado nesse sentido. Colocar essa lei significa
institucionalizar a carência, decretar a carência e, contra isso, nós temos que
nos rebelar. Já não falo nem da posição do PDS, com quem tenho muitas
divergências quanto à política e à ideologia, mas conheço muitos companheiros
do PDS, como o Ver. Vicente Dutra, que trabalhou de forma muito séria na
questão da assistência social, gente que se empenhou nisso, que acreditou
nisso, isso faz parte de sua filosofia. Como defendem o sistema capitalista -
não da forma injusta como está aí - e como Vereadores honestos que são, é
lógico que buscam fazer uma boa assistência. Eu tenho que fazer este registro,
do Ver. Vicente Dutra e de tantos outros políticos do PDS que acompanhei. Não
posso dizer o mesmo, infelizmente, com todo respeito aos Vereadores Luiz
Machado, Airto Ferronato, Clóvis Brum, da política e da assistência que está
sendo feita pela Nova República, com a política do tíquete de leite. V. Exas
não são responsáveis por isso e não acredito que estejam de acordo com
isso. Mas toda a institucionalização da dependência feita pela Nova República,
fica muito difícil a situação, Ver. Clóvis Brum. Ainda levo fé que a Bancada do
PT, mesmo que não vote hoje, reflita nessa posição, nesse chamamento à
consciência nessa linha de raciocínio, nessa linha de rebeldia, de
transformação para a qual apelamos nesse debate, hoje. Sou grato.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Estão
encerrados os trabalhos.
(Levanta-se
a Sessão às 18h36min.)
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